domingo, 27 de dezembro de 2009

Veneno e Vertigem

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Minha mente pregava-me peças certas vezes: daquelas mais ferinas, das mais ácidas. Que ocorriam sempre nos momentos mais incertos e incendiavam de desespero cada fibra minha. E toda aquela segurança que eu fui criando vagarosamente passava entre meus dedos como areia fina e eu caía em uma armadilha muito bem elaborada que sempre eram pelo mesmo motivo: você.

Juntando algumas peças que eu conhecia e mais algumas coisas que eu imaginava com tanta perfeição, eu criava cenas em minha mente que eram tão aterradoras quanto nauseantes para mim: começava a ver os seus olhos lançando olhares de amor a uma estranha a qual eu não sabia nome nem procedência, olhares que eu tão precocemente adotei como “só para mim” sendo tão dela. Vendo tua boca doce e macia, já tão conhecida da minha beijando outros lábios com tanto carinho que sinto meu coração revirar do avesso e tuas mãos estavam marcando tanto os contornos dela que eu me encolhia em um canto de mim mesma e não me julgava no direito de acabar com as cenas em minha cabeça.
E conforme ia me embrenhando nas minhas próprias sandices, mais  ia me arranhando nos espinhos envenenados que eu mesma ia criando, me enchendo de tonturas de desgosto e amargos na boca, vendo tudo ser distorcido e imaginando que ela seria a sua musa, o seu porto seguro, o amor da sua vida como eu não havia conseguido ser.
Pouco me importava se eram estranhas sem rosto que foram personagens de outras páginas de sua história, importava mesmo ainda que tivessem preenchido um ou dois parágrafos, talvez poucas linhas, pra mim sempre foi difícil imaginar que você poderia ter pertencido a outra, que poderia ter dado o seu coração a alguém que fosse mais mulher do que eu, que alguma outra mão te fizesse carinho até você adormecer sorrindo como criança.

O alívio só vinha depois que já tarde da noite eu te explicava todas as minhas aflições, todos os meus medos e você, com sua paciência que ainda me surpreende de tão enorme que é, me explicava que ninguém mais te importava, dizendo que a minha mente é insana, lembrando-me mais uma vez que o nosso amor é tão enorme que nenhuma outra pessoa poderia saber ou calcular seu tamanho e eu finalmente adormecia e finalmente via a cena do lado certo: dentro dos seu abraço.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Olfativo

Ao nascer, sentimos o nosso primeiro cheiro, um chimageeiro que depois de sentido a primeira vez, não sentiremos novamente: o cheiro da vida começando. A partir daí, nossa vida é marcada por vários cheiros os quais muitas vezes nem reparamos. Cheiro de comida da escolinha, que por muitas vezes é repudiado, não é a comida da mãe, veio de um lugar que nunca vimos e mesmo assim temos que comer, cheiro de areia úmida. Começamos logo cedo a gostar do cheiro de terra e mato molhados depois de uma chuva de verão, giz de cera e suco artificial de uva. Cheiro de bolo de cenoura no finzinho da tarde também é um marco importante.
O tempo vai passando e nossa memória olfativa só vai aumentando. Começamos a perceber cheiros estranhos, mais sérios. Cheiro do chão de madeira antiga da escola, a impressão que dá é de que esse cheiro vai ficar registrado nas narinas até o fim da vida. Cheiro de papel novo no começo das aulas, de tinta de caneta. Cheiro de papel de carta e lápis de cor na aula de artes.
Cheiro de escola nova umas cinco ou seis vezes, papel reciclado, encrencas. Cheiro de álcool, cheiro de cigarro. Pra uns esses cheiros prosseguem, para outros não. Cheiro de perfumes dos mais variados, chegamos a nos sentir em um desfile de fragrâncias, uma mais apelativa do que a outra.
Sentimos cheiro de perigo, de adrenalina, alguns sentem cheiro de sangue - até mais vezes do que gostariam. Cheiro de cadáver esverdeado no fundo do tanque de aço inoxidável.
Os cheiros vão variando ao longo da vida. Logo surge o compromisso, para alguns com cheiro de fim da linha, para outros, com cheiro de manhã ensolarada depois de um dia de chuva, mostrando que sempre acontece um recomeço. Algumas vezes podemos nos dar o prazer de sentir o cheiro de vida nova, apartamento novo e recém decorado, cheiro de torta de limão e domingo no sofá com a pessoa que mais queremos por perto.
E assim vamos, sentindo cheiros e provando as sensações que eles nos proporcionam, algumas boas e outras melhores, contribuindo com as nossas lembranças, com o nosso caráter e por fim, depois do cheiro de comida que já não é mais a mesma e da poeira acumulada nas pregas da poltrona sentimos um cheiro que jamais ninguém vai poder dizer como é: o da morte se aproximando e dando seu ultimato, sem confirmar que o céu tem cheiro de baunilha: já não pertencemos mais a esse mundo de perfumes inusitados.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

sublime

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E então, em um dia quente e quieto, ele chega: por mais que você tenha corrido e se negado a deixar ele entrar, por mais que tenha lembranças de outros dias e por mais que tenha cicatrizes ainda recentes (e outras nem tanto) no coração. Ele não quer saber e é teimoso feito criança alegre e invade o recinto mesmo assim.
E daí pra frente tudo vira esperança, mesmo sem querer. E daí pra trás, tudo acaba virando apenas um monte de fotografias em sépia.
Insistente, ele não vai parar de te cutucar até você assumir que sabe que ele está presente, até você se deixar levar pela correnteza e sentir os pés serem arrebatados sem a mínima dó do chão.
No começo é aquela vertigem confusa, um rodamoinho de cores e uma dor de cabeça insana por tentar se prender a algo sólido, mas enfim tudo se estabiliza e volta aos eixos, mas não da mesma forma que era: você passa a ter uma percepção melhor das coisas, porque lhe parece que o sol brilha e esquenta mais, dá pra ouvir o  barulho dos passarinhos alegres e as nuvens que até então tinham sido simples denúncia de vapor no céu, passam a ter desenhos perfeitos.
As pessoas lhe parecem mais simpáticas, ou você é mais simpático com as pessoas, que seja. O que vale é que há sempre um sorriso em você, mesmo que não haja demonstração física disso, mesmo que esse sorriso seja apenas de você para você mesmo.
E ainda tem um fator extra que melhora as coisas de uma forma quase absurda: há alguém do teu lado, alguém com as mãos entrelaçadas nas tuas, alguém que sente o mesmo que você, ou que pelo menos sente coisas muito parecidas e isso causa uma sensação tão grande de conforto, de segurança, que você jura ser capaz de fazer coisas que nunca havia cogitado em fazer só pra ter aquela pessoa cada vez mais perto, mas essa insanidade não é algo ruim.
Finalmente você pode entender o que as borboletas diziam em silêncio, porque agora você pode percebê-las e pode ver que pelo menos uma cruza o seu caminho durante o dia. Finalmente você pode entender o poeta inebriado que diz "De tudo ao meu amor serei atento..." que antes você achava tão piegas e ultrapassado. As coisas acabam tornando-se muito mais fáceis de serem entendidas e muito mais simples também. Você sorri porque está feliz, você sorri porque encontrou a
felicidade.
E mesmo que você seja louco desestabilizado, incompreensível e alguém cheio de manias e dúvidas, as mãos continuam corajosamente entrelaçadas nas tuas, os abraços continuam sendo apertados como se não houvesse defeito algum, como se não importasse nem um pouco a sua neurose que vem nos dias ímpares e múltiplos de 3, porque mesmo ela sendo uma baita esquisitice, surge algo que chama aceitação, misturada a uma grande parcela de carinho. Um carinho que você não sabe nem explicar porque existe, porque há tantos motivos em você para que o outro deseje o contrário, mas este contesta todos os fatores negativos e como que em desafio, permanece forte em seu lugar.
Isso sem falar na felicidade que invade o seu lar, invade os seus olhos - eles denunciam, pelo brilho, que agora você é uma pessoa plenamente feliz -, é quase um escândalo o que acontece com você, finalmente dá para você contar sobre os seus planos, dá para falar besteiras sem medo, dá pra ter a cara amassada de sono ou inchada de chorar e para usar uma camiseta que seja parecida com um pijama e ainda assim ter um olhar de admiração acompanhando cada passo que você dá.
Mas não adianta ficar falando aos quatro ventos sobre o sentimento - mesmo que dê vontade de falar sem parar - porque ainda há, no mundo, pessoas que não sentiram o mesmo que você, mas pouco te importa porque no momento, aquelas mãos continuam atadas firmemente às suas.

sábado, 24 de outubro de 2009

quereres

 

Aniinha 282

Eu queria ter mais presença de espírito, ser alegre por mais tempo. Queria saber tocar violão, queria ter paciência pra fazer cachos nos cabelos, ou mesmo de cuidar deles decentemente.
Eu queria ser mais bem arrumada, descascar menos a droga da minha unha recém pintada do indicador, porque ela não dura nem uma hora completa.
Queria saber arrumar briga, mas antes queria aprender a dar umas boas pancadas pra pelo menos garantir alguma defesa e ao mesmo tempo queria ser menos bocuda e não xingar tanto no trânsito. Gostaria de me aborrecer menos, de esperar menos das pessoas e de não me decepcionar tanto. Queria eu mesma não decepcionar tanto e não ser tão ridiculamente impulsiva em certos casos. Queria aprender a fazer trança embutida, a não ser tão preguiçosa e aprender as coisas com vontade e em seguida faze-las, ao invés de ficar esperando que se façam sozinhas.
Queria aprender a cozinhar melhor, a aconselhar melhor, a cantar melhor – porque esse é o desastre mais decepcionante da minha vida - a ser uma pessoa melhor e não ter que fazer esforços para isso, que a melhora fosse natural como piscar os meus olhos.
Queria ser mais carinhosa, ser mais atenciosa e enquanto isso prestar mais atenção e não ser tão insuportávelmente distraída em momentos que podem ser cruciais, queria ser mais inteligente e ter explicação para tudo que vai na minha cabeça, mas infelizmente essa praga de massa encefálica é muito mais rápida do que a minha percepção.
E mesmo assim vou, querendo e não fazendo, ou pelo menos tentando em alguns casos, tentando sempre ser melhor mas acabando sempre do mesmo jeito turrão e difícil.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Conhecer a vida

Vou arrumar uma mochila vermelha, encher de porcarias e vou me mandar assim que eu puder. Vou andar sozinha pelas avenidas enormes, uma forasteira desconhecida de todas as faces que lá transitam, assim como todas aquelas faces desconhecerão a minha.
Eu vou me perder em alguma floresta, numa tarde ensolarada. Verei esquilos e pássaros exóticos, e nenhum perigo me circundará. Vou correr em círculos em volta de mim mesma e sempre me encontrar.
Eu vou andar pela guia, me equilibrando sossegadamente, péimage ante pé até chegar em lugar nenhum. Vou vender alguns pertences insignificantes, vou comprar pedaços da história de alguém. Deitarei na grama fria depois do anoitecer e aprenderei toda a transição do céu e das estrelas, saberei o nome e a posição de cada constelação existente.
Voltarei a ver o céu de veludo azul marinho e cheio de estrelas de terras distantes e não vou perder outra vez a oportunidade de fazer uma foto para mostrar para os meus filhos e netos, caso os venha a ter. Se não os tiver, mostrarei a amigos, vizinhos. Verei sozinha, se for preciso, mas não deixarei meus olhos esquecerem jamais daquilo que vi.
Vou deixar o cabelo crescer mais, só pra poder sentir o vento sacudi-los ou bagunça-los, conforme eu ande contra ou a seu favor. Vou sentar na beira de uma estrada de terra e cantar uma canção com a voz e com o coração, olhando para as nuvens brancas no céu, sentindo a brisa encher os meus ouvidos de sussurros de vozes antigas.
Buscarei meus deuses e meus heróis, encontrarei luz infinita. De todas as verdades que aprenderei, a mais forte será a de que conhecimento nunca é demais e a mais absoluta será a de que a vida é bela. Muito bela, e canta uma música tão envolvente que quem se recusa a ouvi-la só pode ser louco.
Eu vou aprender a tocar violão, a fazer contas de cabeça, vou pintar o cabelo de laranja e vou fazer uma tatuagem que ocupe as minhas costas inteiras.
E assim, depois de muito ver, muito ouvir e mais ainda aprender, voltarei à minha casa fechada, a vida renovada e a mente completamente aberta a todas as coisas. A vida vai ficar mais fácil de viver e eu posso estar velha como o tempo, mas terei o gosto de dizer que vivi como eu tinha que viver e que vi muito mais do que um dia achei que fosse possível;

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Sessão pipoca

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A minha vida daria um filme de romance. Daqueles bem piegas.
Cheia de reviravoltas, onde o mocinho conquistador vira vilão em questão de minutos e um príncipe completo aparece bem onde parecia ser o início dos créditos finais, dando um final inesperado a trama.
Um daqueles de mistério, que quando se espera um acontecimento, outro totalmente diferente acontece, surpreendendo o espectador - e a protagonista!
Na minha vida, também tem filme de terror, com longos períodos de escuro e de medo profundo. Com corredores de hospital e sustos de gelar o sangue. Tem drama mexicano, com baldes de lágrimas acumulados que depois poderiam servir de chuva para o cenário e cenas em que eu me jogo na cama perguntando por que o mundo é cruel.
E depois vem a parte de auto ajuda, onde consigo perceber que depois de um dia ruim vem um um pouco melhor, e dias de céu azul não resolvem problemas, mas dão um bem estar danado, vem a aceitação e a parte em que a menina sem graça vira a cinderela, ou quando a maria mijona dá a volta por cima e se prova mais forte do que qualquer um imagina.
drama, desenho animado, comédia ou suspense... seja qual for o gênero ou o elenco, tenho certeza de que a minha vida carregará pelo menos um curta metragem.

Texto para o TudoDeBlog da Capricho: A minha vida daria um filme.

Crescendo e Aprendendo

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Crescer é natural. Um dia a menina descobre que é mulher e que várias coisas vão mudar em seu corpo, mesmo que ela não tenha vontade.
Assim é crescer, de repente, no sofá da sala da minha irmã eu fiquei sabendo que Papai Noel não existia, descobri que fui enganada e senti minha inocência de criança sendo despedaçada. Nesse exato momento, com uma certa dor, senti-me invadindo o mundo dos adultos e pouco a pouco, me adaptando sem querer.
Hoje em dia, só percebo que faço parte desse mundo adulto quando vejo o brilho nos olhos de uma criança ao ver as luzes e cores de um brinquedo novo - porque se não for assim, nem lembro que sou oficialmente adulta: meu lado criança é sempre tão presente que na maioria do tempo, me sinto uma menininha de maria chiquinha e saia rodada.

Texto para o Tudo de Blog: Quando percebi que não era mais criança? Doeu? Foi bom? (…)

domingo, 30 de agosto de 2009

Amor amigo

Apaixonar-se por um amigo não é uma coisa lá muito fácil. O primeiro sentimento que surge é o medo de perder toda a confiança e a amizade bonita que foi construída dia-a-dia. Mas a vida as vezes prega peças, inclusive nos melhores amigos que viam-se como irmãos e um dia começam a se olhar de um outro modo, quase que sem querer.
E já que se está correndo o risco, o bom mesmo é se jogar de cabeça na nova situação, se o sentimento é recíproco e a amizade é forte. Porque se uma amizade é forte, ela resiste mesmo se alguma coisa no relacionamento despencar. E diga-se de passagem, amar um amigo é a coisa mais divertida e mais colorida que pode acontecer, pode se conversar com liberdade sobre qualquer coisa e o namorado, por antes ser seu amigo, não vai nem ligar para aquela mania estranha que você tem. Ter um melhor amigo é uma coisa de preço altíssimo, mas ter um namorado melhor amigo é simplesmente impagável quando não se tem medo de arriscar.


Pauta para o TDB: E se o seu BFF se apaixonar por você?

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Versos verdes

Já perdera as contas de quantas vezes tinha dito a mesma coisa, de quantas vezes esclarecera para dois segundos depois parecer que não tinha dito nada e o mais irônico de tudo é que ela não largava a situação, simplesmente porque não tinha a mínima vontade.
É claro que pelo menos uma vez por dia ela ameaçava ir embora, pegava o casaco onde quer que ele estivesse, procurava as chaves na bolsa, arrumava o cabelo rapidamente e marchava holding-hands1decidida para a porta, mas fazia tudo isso esperando pra sentir o aperto da mão dele em seu braço ou em sua mão, segurando-a, impedindo-a. Ela não sabia porque fazia aquilo e sabia que um dia ela não sentiria aquele aperto forte, meio nervoso e então ela teria que caminhar sozinha - se sentindo mais vazia e com mais frio do que nunca.
Ainda assim, gostava de ver aquele olhar intenso nos olhos dela, num pedido mudo para não fazer brincadeiras daquele tipo, censurando-a em silêncio e ainda que visse uma sombra de raiva dela, não sentia o menor medo. Até gostava de ver aquela raiva perpassando os olhos dele, porque era ligeiramente louca, porque amores incomuns faziam muito mais o feitio dela e na concepção dela amor tinha que ter dessas coisas, além de beijos um pouco desesperados, mãos entrelaçadas e toda a proximidade que ela descobriu necessitar de uma hora pra outra, por mais que ela odiasse admitir.
De todas as coisas que ele fizera despertar nela, aquela necessidade de estar perto, de estar junto e de discutir por cada ponto fora do lugar era a mais irritante, a mais incômoda e a mais curiosa, porque carregava uma série de mistérios que ela acreditava nunca ser capaz de decifrar. Se alguém lhe tivesse contado que dali a alguns dias ela estaria daquela forma, os olhos brilhando tanto quanto brilhavam, a boca num sorriso quase que em tempo integral e a atenção tão desviada em certos momentos, ela teria rido da pessoa, e rido alto. Mas agora encontrava-se em um furacão de coisas novas e de intensidades maiores em que ela nunca imaginou estar e ela em toda a sua bagunça não achava aquilo ruim, nem de longe.
Seu espírito curioso estava de volta e ela queria saber o por que de todas as coisas mesmo sem saber explicar muitas outras, suas manias estavam mais irrefreadas do que nunca e pela primeira vez em sua vida ela não se sentia culpada por permitir-se sentir as coisas e falar tudo com sinceridade. Isso sem contar o seu espírito de criança que saltitava de saia rodada por todos os cantos e incrivelmente conseguia fazer com que ele risse alto e a olhasse com uma admiração que ela não teria conseguido imaginar nem nos seus sonhos mais coloridos. Se alguém lhe perguntasse qualquer coisa naqueles últimos dias, ela teria encontrado uma resposta satisfatória, teria inventado uma teoria muito mais forte do que as que costumava criar, sorriria e até mesmo conseguiria explicar cada movimento de seu próprio destino.
Ela estava aprendendo e juntamente com isso estava ensinando e todos os dias havia algo novo para  ver ou para dizer, mesmo que todos os dias fossem iguais e ela, para sua própria surpresa, sabia não estar nem um pouco disposta de abrir mão daqueles olhos tão verdadeiramente verdes que um dia ela encontrara quase que por acaso.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Coração incomum

Lovers_

Não havia aquele frio na barriga tão típico da situação,  como a sensação de susto ao pular o último degrau da escada sem querer, muito menos havia borboletas que esvoaçavam pelo seu estômago. Ela não gaguejava ao vê-lo e nem perdia a respiração. Ela não via nada de mau nisso.
Ela sempre achou que era diferente – pelo menos um pouco – das garotas ao redor: todas sempre sonhavam com o príncipe encantado em seu alazão reluzente, que lhes chegava com um enorme buquê de rosas vermelhas numa das mãos (chocolate não, porque engorda), e uma aliança de compromisso em outra.
Para ela, ele podia vir como fosse, não lhe importava tanto assim: podia ser um esbarrão na rua, ou uma informação ali na esquina, ele poderia lhe oferecer um doce qualquer e ela lhe sorriria como criança e aceitaria sem pensar duas vezes e a aliança poderia muito bem lhe passar batido, pois o que lhe importava mesmo (e sempre havia sido assim com ela) era o compromisso que ele teria com ela de fato e não apenas um adorno que tão comumente é usado só para fazer barulho, para causar impressões. Ele poderia insistir que era para ela lembrar-se dele, mas ela lhe replicaria com suavidade (e as vezes até com impaciência) que todos os dias ela acordava e se lembrava dele e que não precisava de nenhuma fita amarrada no dedo para que se lembrasse.
Ela era considerada bem da esquisita, sabia. Sabia que ele também tinha essa opinião, mas estava pouco preocupada, pois sabia que ele iria gostar até mesmo das manias mais absurdas, e até poderia vir a admirá-las. E ignoraria com afinco os olhares do resto do mundo que estranharia aquela garota que namorava um amigo, porque não lhe importava: ela sabia desde muito tempo atrás que nada com ela seria comum. Tanto mais seu amor.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Sobre continuar respirando

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Não tinha mais jeito, foi o que deu pra pensar na hora em que ela se viu na rua escura, apenas as pedrinhas do asfalto antigo brilhavam com a luz fraca da lua. Por que estava ali de novo, andando no escuro, no sereno gelado que arrepiava seus pelos? Por que se sujeitava tanto?
Já tinha feito de tudo e se expunha cada dia mais: Dormira com a janela aberta, as cortinas balançando furiosamente ao vento de uma tempestade que se aproximava e que nunca chegou até aquele ponto da cidade. Passara a noite com a porta destrancada, acendeu velas e dormiu no chão com elas ao redor, se alguma delas caísse e queimasse tudo, teria sido acidentalmente. Até o gás ela já tentara deixar ligado, fechada na cozinha, mas nada daquilo havia adiantado, porque sobraram pedaços dela pra contar história, pra se lembrarem de todas as tentativas desesperadas de cessar a dor, o incômodo e as lágrimas teimosas que insistiam em voltar a  cair por seu rosto.
Havia momentos em que ela simplesmente se entregava à loucura, ouvindo o relógio se movimentar a cada segundo. Incessantemente, até a escuridão se sobressair e ela cair no sono.
Toda aquela loucura, todas aquelas tentativas infundadas e desesperadas, todos os objetos atirados contra a parede, todos os gritos dados com fúria, aquilo tudo tinha um nome, um motivo, uma história lembrada. Um nome que ela as vezes não se lembrava, um propósito perdido há muito tempo, em alguma tarde de primavera afundada no passado.
E ela sentia-se perdida, cada dia mais, pois não conseguia voltar a ser o que era, havia perdido muito de sua integridade. Não conseguia voltar às linhas de pensamento que tinha, pois perdera seus ideais, apertando-os como areia em seus dedos. Também não conseguia sorrir como antigamente, pois tinha certeza absoluta de que seus sorrisos mais sinceros haviam sido roubados dela durante aquela história, assim como os seus olhos brilhantes e sua vivacidade natural. Ela esperava, do fundo de seu coração, de que aquelas coisas fossem bem guardadas, de que a sua risada alta tivesse causado algum impacto no meio da noite estrelada. Só aquilo lhe daria conforto, ter conhecimento de alguma daquelas pequenas coisas poderia mudar tudo, e ela não sabia.
Não sabia, mas mesmo assim continuava tentando encontrar algum sentido naquelas vielas escuras e cheias de buracos e de desolação, grande parte ela sabia pertencer a ela mesma, pois havia estado ali tantas vezes exposta ao perigo e entregando seus suspiros ao vento que já tinha perdido as contas.
E pensara que morreria tantas vezes durante aquelas noites entregue ao seu próprio destino, fosse por uma casualidade cuidadosamente armada, fosse por pura exposição intencional. Balançou a cabeça. Apesar de ter se entregado ela continuava ali - aquilo devia ter algum sentido, meu Deus! - caminhando em cima de seus saltos, indo pra frente, mas sem rumo algum e respirando lentamente.

ps.O texto NÃO é auto biográfico. :*

domingo, 28 de junho de 2009

Simples divinos

Afortunados os que sabem perder, os que sabem acompanhar alguém por muito tempo sem desinteressar, os que conseguem levar uma vida e se contentar com ela. Também os inquietos, que não sabem parar nunca, que andam em torno deles mesmos só para não terem que ficar parados.
Bem aventurados aqueles que andam na linha, e mais ainda os que ousam ultrapassá-la em busca da felicidade e mais nada, sem medo de olhares reprovadores, punhaladas pelas costas ou possíveis quedas pelo caminho, porque sabem que poderão se levantar.
Benditos os esquecidos, porque sofrem no momento e depois nunca mais se lembram do que os fez derrubar tantas lágrimas e os confortadores, que cedem os seus ombros a qualquer pessoa que os peça, mesmo sabendo que quando precisarem de um ombro estarão completamente sozinhos no mundo.
Certos os despreocupados, porque além de não se preocuparem, preocupam ainda mais os que têm alguma coisa a perder. Certo também quem não tem mais nada a perder, porque já entendeu que não vale a pena ficar juntando coisas e histórias e palitinhos de dente de lembrança.
Inteligentes os que não constróem mais castelos de cartas porque aprenderam que existem pessoas más em todos os cantos escuros e que cedo ou tarde alguém vai aparecer soprando ou dando patadas em projetos que custaram tempo e concentração.
Cheios de glória os poetas e todas as suas obras belas mesmo enquanto cheias de tristeza e pesar, porque rimam seu coração e sua arte, e cheios de glória aqueles que não esperam mais nada da vida porque aprenderam que não se esperando absolutamente nada às vezes algumas surpresas dão as caras em alguma virada brusca.
Iluminados os amantes, os amados e os que sabem amar com todo o coração, porque é deles o reino dos céus, é deles a terra e o ar, porque eles fazem por merecer não tendo medo de dar a cara a tapa e de cair em queda livre pelo abismo dos sentimentos incertos, muitas vezes sem asas muito fortes para sustentá-los. Aliás,que todos nós sejamos iluminados, porque cada um é que sabe os medos e jóias que carrega consigo e sabe - ou não - explicar o porque de cada rumo que toma e de cada lágrima que derrama e porque o céu também tem um lugar reservado para aqueles que não amaram tanto assim, mas que mesmo assim foram bons, ou que cantaram, ou que deram risadas altas vida afora, muitas vezes sendo obrigados a enfiar os medos embaixo do tapete e prosseguir.

angels
Image by:
~Memphis86

sábado, 20 de junho de 2009

Dias melhores

No meio da rotina e do caos que eu vivo, me pego pensando e as vezes acredito que todos esses dias e lugares pelos quais eu passo, são todos cinzas e que não valeram a pena.
Mas se eu fico mais um tempo refletindo, eu lembro da senhora que sorriu pra mim quando eu lhe pedi desculpas, na moça que me deu bom dia quando eu estava saindo de casa, no homem que passava apressado, trombou em mim e teve a dignidade de voltar e me ajudar a recolher as coisas espalhadas. Lembro das ligações que eu fiz e das que eu recebi, dos planos (mesmo que absurdos de vez em quando) de um futuro sossegado, do sorriso que eu dei de graça a uma estranha. As vezes receber reconhecimento faz um bem enorme e um "obrigado" pode vir bem a calhar.
Eu não tinha ideia do que podia ser milagroso a ponto de salvar o meu dia, mas analisando a fundo eu vejo que educação e gentileza são comportamentos cada vez mais raros, ainda mais na loucura urbana nossa de cada dia e são os pequenos gestos de atenção e de boas maneiras que fazem toda a diferença e parecem nos aliviar o cansaço no meio de tanta pressa e tanto stress.

Pauta para o Tudo de Blog: "O que salva o seu dia?"

sábado, 6 de junho de 2009

Amores Tortos

Imagem by Lasol (DeviantArt)Feeling_as_good_as_lovers_can_by_LasolEu sempre tive uma inclinação para ser esquisita, então, sempre pedi para que eu encontrasse alguém que pelo menos soubesse ver alguma beleza no meu jeito de ser.
Alguém que entendesse os meus olhares mudos que dizem muito assim como entende os meus sorrisos fáceis, que visse graça nas molecagens espontâneas que me invadem de vez em quando , como a mania de fazer um carinho violento, beijos com soquinhos, sem falar nas manhas e nas caras de cãozinho pidão, em meio às crises de filosofia e a solidão que eu sempre gostei de ter, que fosse meu amigo acima de tudo e que completasse as minhas frases.
Sempre pedi alguém que me aceitasse do jeito que eu sou, porque eu sei que não sou fácil de aguentar, tenho um milhão e meio de manias irritantes, defeitos e pra piorar a situação sei que eu sou cabeça dura e que não mudo rapidamente.
Por isso, houve uma época em que desacreditei de tudo, arrumei a minha vida acreditando que iria sempre ser só, que não podia existir alguém na face da Terra que pudesse suportar o ser irritante que vos fala e um belo dia, percebi que estava errada.
O meu herói (pra me aguentar, é herói mesmo) estava do meu lado, ouvindo os meus lamentos infinitos e me provou que milagres podem acontecer, sim. Ou que tem louco pra tudo nessa vida…

Pauta para o site da Capricho.

Ai, meu estômago!

food “Você é magra de ruim!” é o que eu sempre ouvi, desde pirralha, quando nem sabia o que essa frase queria dizer.
Posso dizer que concordei absolutamente com todos os que me disseram, quando compreendi, porque eu nunca vi alguém pra ter um apetite como o meu.
Cinco minutos após o almoço, lá estou eu abrindo armário, geladeira, revirando a fruteira em busca de alguma comidinha interessante, quando estou no computador, sempre tenho alguma guloseima me acompanhando e quando sento para estudar é a mesma história, senão pior.
Vivo comendo e faço umas misturebas medonhas, tipo pão com manteiga e nescau – o nescau acompanha a manteiga no recheio –, como lasanha a 1 da manhã, depois tomo leite e não passo mal de jeito nenhum.
O mais incrível de todas essas façanhas, é que eu não engordo de jeito nenhum, posso comer horrores o final de semana inteiro na tentativa de engordar um pouquinho e não vou ter mexido o ponteiro da balança um centímetro sequer. Por isso, resolvi abandonar a neura de querer engordar e assumo: Sou mesmo magra de ruim!

Pauta para a revista Capricho “você é o que você come?”

Update básico:
Estou com um blog paralelo (estamos, pq é blog coletivo). Lá eu vou fazer umas postagens mais cotidianas, falar o que eu penso de certos acontecimentos da minha novela mexicana (leia-se: minha vida) e falar besteiras.
Os colaboradores do GarapaTwist (e eu no meio) vão agradecer a visita de vocês :D

Beijoos

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Eu sou rica, eu posso.

rich

Eu sempre digo que rico pode tudo e pra ter a confirmação do que eu digo é só olhar por aí: tudo que rico faz é bonito. É por isso que quando eu conquistar meu primeiro milhão, vou aprontar horrores! Eu vou acertar as contas com um ou dois palhaços que me deixaram na mão, talvez eu quebre o carro de um e os dentes de outro e depois chamar meu segurança, colocar meus óculos tapa-cara e ir embora no meu carrão reluzente. Vou estar cada semana com uma cor de cabelo e andar por aí toda empiruada. Vou tatuar um dragão que ocupe as minhas costas inteiras, vou dar “aloka”, chamar alguns amigos e fazer guerra de travesseiros no meio da Avenida Europa e depois nós vamos encenar uma discussão feia no meio do supermercado. Vou andar de skate seminua (nua eu não tenho coragem nem sendo rica) e de pantufas pela cidade, sem contar o piquenique no meio da pista de boliche. Vou dizer umas verdades por aí, mas tudo com muita classe e muito estilo. Também não posso perder a oportunidade de quebrar um quarto de hotel inteirinho, depois eu reembolso o prejuízo, porque eu serei uma rica-problema, meu bem, mas ainda assim serei muito fina!

Pauta para o Tudo de Blog: O que você faria com um milhão de reais?

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Cadeira

chair

Estava sentada, olhava para o espaço vazio à sua frente, ao seu redor ao mesmo tempo em que olhava para o espaço em branco na sua história. Quando pensava nisso, ela via um caderno antigo, amarelado, com linhas já quase se apagando e sem nenhum vestígio de carvão ou de tinta da cor que fosse. Não havia nada, só branco.
Sentia que os minutos de sua vida se passavam rasgando por ela, sentia que todos eles passavam por entre seus dedos e que seus dedos eram despreparados demais para agarrar qualquer um deles. Cada minuto era uma lâmina fina cortando a sua pele, rápida e imperceptivelmente.
A cadeira era dura demais, suas costas reclamavam, suas pernas formigavam. Toda a dor era ignorada, no máximo um movimento leve era feito, ela não podia aparentar desconforto de modo algum, era uma regra dela para ela mesma. Então era isso que ela fazia: um movimento simples e quase gracioso, como um movimentar de cabelos e mais nada. Aguentava naquela pose quanto tempo fosse preciso. A cadeira era dura, era dura que nem a vida. "Se a vida fosse menos dura, não teria a menor graça.", ela se lembrou automaticamente, dando um meio sorriso particular e quase feroz. Quem visse de fora não entenderia, teria vontade de decifrar o pensamento que se passava pela cabeça dela, acreditaria que fosse um pensamento sujo. Mas não era, não era sujo. Era um pensamento forte e corajoso, apesar de sua crença de que sua força e coragem tivessem sido deixados em alguma sarjeta imunda da cidade e levados por alguma chuva forte que tinha dado nos últimos dias. Ainda assim, seu pensamento era corajoso e intenso, pelo menos isso. Ela não se considerava nem um, nem outro, ultimamente. Mas ainda assim, não desacelerava e não tinha idéia do porque. Ela não se acalmava e não estava satisfeita com isso, porque aquele nervoso contínuo estava se misturando a ela de tal forma que chegaria um dia que ela não saberia separar um do outro.
Aquela fúria estava em seu olhar, quente e arredio. Desses olhares que não ficam dois segundos no mesmo lugar e que ainda assim não são assustados. Aquela fúria estava em suas mãos, que apertavam qualquer coisa como se fosse a beira da rocha que salvaria a sua vida. Objetos de cristal deveriam ficar a uma distância segura, ela se lembrou com outro sorriso, dessa vez mais divertido.
Era assim sempre, sua vida era cortante a cada minuto e dura que nem a maldita cadeira em que estava sentada mas ela sempre acabava encontrando um gracejo a ser feito, sempre dava risada de algo, mesmo que fosse banal, mesmo que não tivesse vontade. O som do seu riso e o movimento incomum que ela fazia com o corpo, com os braços e com o rosto eram um bálsamo que a incentivava a continuar, apesar de que ela ainda não havia se conformado em como arrumava jeitos de continuar e continuar. Ela sempre arrumava uma forma de rir, de apertar os olhos nem que fosse pra conter as lágrimas que vinham e dar um sorriso, nem que fosse para sorrir da própria dor.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Dentes Cerrados


Chega uma hora da sua vida em que você cansa de errar. Cansa de escolher o caminho errado sempre, a pessoa errada sempre, mesmo que a sua inclinação para esses erros continue a mesma.
Chega uma hora em que você cansa de sentir dor, porque a dor que você sentiu ao longo da sua vida até aqui parece que é o suficiente para preencher não só a sua vida, como a de todos os outros que te cercam e isso te basta imensamente. Você quer se ver livre dessas crises que você tem e quer isso logo, quer poder colocar óculos escuros e ver o verde brilhante das árvores no meio da cidade debaixo do sol, e pensa no quanto isso vai ser incrível, ao mesmo tempo em que volta a sentir todos os hematomas da tua alma reclamando mais uma vez. E você pensa no fato de não sentir mais nada por ninguém e se interessa por isso, porque dessa forma as dores seriam reduzidas consideravelmente. Essas dores infernais são feitas basicamente de sentir errado, de acreditar fiel e insistentemente em uma coisa que não vai funcionar, que não tem um pingo de futuro e mesmo assim toca uma música tão atraente e sedutora que você não consegue parar de dar ouvidos.
E daí você também começa a desenvolver um tipo de raiva pelos que te cercam e pelos que te querem bem, porque eles, apesar de quererem te ver feliz, não entendem absolutamente nada do que você sente e querem a todo custo te convencer que as coisas que você quer te causam sofrimento, sem nem mesmo perguntar se você quer esse sofrimento. Porque isso acontece. As vezes o que você mais deseja é agarrar tudo o que você quer tão forte e tão possessivamente que você nem pensa nos machucados e no sofrimento que isso vai te causar. Apenas quer e pronto, ninguém tem que ter nada a ver com isso, mesmo que o que você esteja agarrando seja um cacto ou um conjunto de facas afiadas.
Chega a hora que você cansa de andar errado, de pisar torto e de apertar lâminas nas mãos, chega o momento em que você deseja mudança desesperadamente e clama por ela, e grita e se debate contra qualquer coisa que for oposta a isso.
Você deseja tanto por ver as coisas mudando e seguindo o fluxo do qual nunca deveriam ter fugido que se dispõe até a esconder todas as coisas podres que foi criando e acumulando dentro de si e pisa forte no chão, apertando os dentes com a mesma força que vai demonstrar ao mundo e a você mesmo a partir daquele momento. E é isso que você faz, é isso que você segue, é assim que vai ser daqui por diante.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Busca

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Ele prestou atenção no vento que fazia aquele barulho característico, misterioso e meio abafado. Aquele barulho sempre o fascinava, principalmente se ocorresse no início da madrugada, porque os carros já não passavam na rua, porque já não haviam tantos olhos alertas, porque a maioria das vidas estava reclusa em seus aposentos e assim era mais fácil de ouvir. O som era mais claro e puro daquele jeito.
Ouviu mais adiante: os sinos na janela de algum vizinho retiniam, dando um toque alegre ao som do vento. Percebeu a ameaça de chuva entrando pela fresta de janela aberta em forma de frio úmido e ouviu o barulho suave das cortinas pré históricas balançando.
Ouviu mais meia dúzia de coisas e esperou, mas de algum modo sabia que ela não viria. Talvez porque ultimamente ele andasse tão incerto e tão fora de si, desconectado de sua própria cabeça para ficar afastado daquele sentimento de não saber em que caminho andar. Talvez também porque por tantas noites cálidas ela tivesse tentado uma aproximação e ele, fechado e resignado consigo mesmo, não tenha feito questão de notar sua presença, outrora tão desejada e bem vinda. Ou ainda porque em certas noites seu estado catatônico tenha toldado não somente teus olhos, mas também seus sentidos e ele mesmo tentando senti-la, falhara miseravelmente.
Agora com a chuva caindo e esfriando lentamente as paredes do quarto, ele queria que ela aparecesse, buscando algum vestígio dela nos lençóis, ou em algum cantinho escuro, como se ela fosse dessas que deixam algum rastro. Varreu tudo com os olhos, mesmo sabendo que ela não estava lá e nem tampouco apareceria.
A paz naquele instante, naqueles dias, andava visitando outra pessoa e ele esperava sinceramente que essa pessoa a aproveitasse muito bem e desejou poder encontrar seu caminho tão logo, para que assim ele pudesse ir de encontro com a sua paz de espírito novamente.

sábado, 25 de abril de 2009

Acelerado

_heart__

Meu coração é uma mancha. Uma mancha pulsante, vermelha, meio escura. Vibrante como um coração jovem que já viu uma infinidade de coisa, mas que sabe que tem muito mais a ver.
É uma nuvem branca e fofa, tal qual desenho de criança, de inocência inexplicável, doce e cheia de lembranças como um algodão doce. Além disso é fogo descontrolado, disparado e incessante, mesmo quando me faz acreditar que caiu num buraco negro de meus interiores e sumiu sem deixar vestígio. É chama brilhante e sedutora, lenta, forte e bruxuleante.
Meu coração é feito de milhões de estrelas que vi num céu de verão lá do outro lado do mundo e elas piscam para mim sem nem mesmo saber o porque, dia e noite, sem parar. É sombra perigosa e ameaçadora, cratera funda e inflamada que surge nas noites vazias que inevitavelmente ocorrem na minha existência. É viúva louca vestida em véus negros no meio do carnaval, chorando as mágoas de um passado que lhe pertenceu e desejando um futuro que nunca será seu.
Ainda assim é feito de plumas e paetês, sempre novos e sempre, sempre fazendo alarde brilhante e chamativo por onde anda, despertando olhares curiosos. Ainda assim é vitrola antiga que toca sem parar uma doce melodia amarga e as vezes dá lugar a batidas profundas e gritos estrondosos, quando não mistura tudo e me envolve em uma mistura de sentir, sem nunca deixar de tocar.
Coração que é tão grande que carrega mesmo sem querer, mesmo sem parecer, todo o sentimento – e um pouco mais – que consegue carregar, ele que acelera, adolescente, sempre que pode, porque lhe é permitido. Porque coração é vivo, é barulhento, espalhafatoso. Foi feito para isso.
Se um coração não bate, nem acelera, nem nunca faz nenhum baile da saudade moderninho e nem nunca se rebela com batidas fortes e envolventes, não é coração. Coração que só bombeia sangue é frívolo e priva as pessoas de uma existência muito mais significante. Coração que se deixa só pulsar não carrega sentimento, apenas é um músculo a mais.

sábado, 18 de abril de 2009

Olhando lá atrás

_Past_

Por mais que eu tenha lutado comigo mesma por uns tempos para não fazer isso, eu vivo pensando em retornar ao passado.
Se eu pudesse escolher, eu voltaria há uns dez anos atrás e faria questão de me agarrar mais às lembranças que fui me deixando esquecer, brincaria até o fim de todos os dias, aproveitando um pouco mais da minha infância que se foi sem que eu percebesse e faria questão de aproveitar as pessoas que me foram tiradas mais cedo do que eu gostaria.
Em seguida voltaria há uns dois ou três anos atrás e aproveitaria a época em que eu pensava ter problemas grandes, quando na verdade eu não os tinha. Não para mudar alguma coisa, mas para reviver os dias que me eram tão cinzentos com o colorido vivo que eu os enxergo hoje em dia. Teria chorado menos, me preocupado menos e talvez eu também tivesse sido um tantinho mais esperta e menos medrosa e com certeza eu aposentaria aquele moletom horroroso que eu usava. Teria tirado mais proveito das coisas, visto que aqueles dias (e tantos outros que me foram ótimos) não vão voltar nunca mais. Encontro o meu passado com frequencia. Não porque meu presente seja frustrado, mas porque eu gosto de relembrar daqueles dias, porque eles, mesmo sem querer, mesmo sem que eu percebesse, me trouxeram até aqui, fazendo de mim o que sou hoje
.

Pauta para o Tudo de Blog da Capricho.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Felicidade em celofane

Chocolate_expression

Há algum tempo, numa conversa, um amigo me fez uma pergunta um tanto peculiar: ele me perguntou por que a felicidade não pode ser como bombons, desses que a gente enfia na boca um atrás do outro, que dão satisfação imediada e que principalmente são fáceis de se conseguir. No começo eu concordei com ele, mas depois que eu pensei melhor, cheguei a outro ponto de vista.
A questão é que bombons são ótimos, fazem um bem danado quando a gente come. Mas, se enfiássemos um atrás do outro na boca, como seria?
É claro que o gostinho de chocolate ia ser um ótimo companheiro no começo, em seguida já seria um gosto conhecido e por fim, acabaria por nos enjoar. Iria enjoar de uma forma que não ia dar pra suportar nem o barulho do papel celofane, sem contar que depois de um tempo ia passar a fazer mais mal do que bem, engordando e estragando os dentes, porque tudo que é excessivo acaba enjoando.
Bombons são para se comer de vez em quando, quando formos crianças bem comportadas e merecermos alguns de sobremesa, ou quando quisermos tirar algum gosto ruim da boca. Só assim para se aprender o valor do bombom.
Dessa forma, não se aprende somente a sentir o gosto doce dominar a boca, destruindo qualquer vestígio de amargo, aprende-se também a apreciar o brilho encantador do papel enquanto a embalagem é aberta lentamente, o calor crescente depois da primeira mordida e a maneira como fazemos de tudo para o gosto não ir embora depois que terminamos.
Com a felicidade é do mesmo jeito: se a tivermos em tempo integral, esqueceremos a sensação boa de sentir a felicidade nos invadir.

sábado, 4 de abril de 2009

Juventude Desviada

class Maçãs nunca mais foram entregues à professora. No lugar de respeito e atenção, os mestres recebem hoje alunos que comportam-se como se soubessem mais do que todos e que nem se dão ao trabalho de prestar atenção no que lhes é ensinado.
Casos assim nos dias de hoje são bem mais frequentes do que se pode imaginar: Todos os dias algum noticiário relata o caso do aluno ensandecido que atacou oito colegas e um professor, do grupo de garotos que anda dando surras a torto e a direito em quem ousa discordar com suas idéias… já é algo que faz parte de nosso cotidiano, tanto que muitas pessoas já não se surpreendem mais e resmungando que o mundo está perdido, desligam a televisão e vão jantar.
O que acontece é que os pais de hoje em dia educam seus filhos de uma maneira completamente diferente de como os pais de uma ou duas gerações anteriores educavam. É utilizada a tática do “se ele alguém te bater, você devolve duas vezes mais” e uma geração de monstros violentos é criada em questão de segundos. Se fazem de cegos quando trata-se dos erros de seus filhos perfeitos e passam por cima das falhas cometidas por eles, culpando quem for necessário para livrar a cara de seus rebentos.Ou seja, o respeito torna-se uma palavra desconhecida dos alunos de hoje, dando lugar a uma selva onde o mais acobertado sobrevive.

Pauta para o Tudo de Blog, da Capricho.

domingo, 29 de março de 2009

Renascendo

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Saí para a sacada do apartamento, que fica meio enfiado no meio de tudo, de pijamas mesmo, com o friozinho áspero do finzinho da madrugada mordendo os meus braços, provocando arrepios de frio e o céu a leste com algumas poucas nuvens tingidas de rosa escuro.
E todo o céu foi transitando lentamente, ficando mais com cara de dia e menos com cara de noite, as nuvens próximas se borrando de um bronze intenso. Era lindo.
De repente, eu me enchi de um pensamento totalmente incomum para a fase em que eu estava vivendo, algo que me invadiu com tanta força e certeza que eu não ousei contrariar. O pensamento de que  a vida não é ruim, não pode ser. Nós – e a nossa existência dramática – é que acabamos nos fazendo vítimas de algo que não é inteiramente cruel.
A consciência (e talvez certeza esmagadora) disso e as cores do céu se fazendo e ficando a cada segundo mais brilhantes diante dos meus olhos me deixaram tão absorvida e tão embriagada naquele momento que eu nem sequer consegui pensr em um modo de rezar. Eu não consegui pensar exatamente em qual palavra poderia descrever e expressar completamente aquilo que eu estava sentindo naquela hora. O olhar posto na luz, o tato sentindo a brisa das primeiras horas, os ouvidos ouvindo nada mais que o silêncio absoluto, tão difícil estando em uma cidade movimentada e o nariz sentindo o cheiro da manhã que se formava, numa harmonia completa dos cinco sentidos, sentindo uma coisa só juntos. Naqueles primeiros minutos do amanhecer do primeiro dia do ano, eu entendi que eu estaria feliz com cada simples gesto que eu recebesse a partir dali.

sábado, 21 de março de 2009

Conversando com a morte

morte

Hoje trago uma ilustre convidada, Dona Morte.
Ela falou comigo por telefone diretamente do além para me dar uma entrevista na íntegra sobre o que é verdade e o que é mito em sua carreira milenar:

Dona Morte, como você explica esse medo que todos criaram da senhora?
DM: Veja bem, o ser humano tem toda uma tendência a ter medo do que não conhece e na verdade nenhum deles, nem você mesma me conhece. Aprenderam a me ver como algo ruim.

E você não é ruim?
DM: Claro que não! Eu pareço má nesse exato momento, falando com você?

Não, realmente não parece. Você é bastante simpática e de bem com a vida.
DM: Belo trocadilho (risos). Eu e a vida temos uma relação boa. Ela faz a parte dela e eu faço a minha. Nunca tivemos uma briguinha.

E como você lida com o medo das pessoas quando você vai buscá-las?
DM: Meu trabalho é árduo. Tenho que fazer um serviço rápido e limpo e às vezes as pessoas não colaboram com isso. Acabo ficando com dó de algumas, mas te digo: os pretextos para não morrer são os mesmos há séculos.

Qual foi o pretexto mais engraçado que você já ouviu?
DM: Me divirto muito com os torcedores fanáticos que pedem pra ver um último jogo do time que torcem e principalmente com os mais medrosos. As reações são muito engraçadas, e já presenciei muitos casos em que a pessoa morre de susto.

Sem trocadilhos?
DM: Sem trocadilhos. Eu tenho esse efeito fatal, alguns me vêem e simplesmente caem duros (risos).

 

Pauta para o Tudo de Blog da Capricho: “Quem você gostaria de entrevistar?”

quarta-feira, 11 de março de 2009

Cotidiano

Olhava pela janela, o céu azul acinzentado com nuvens meio

bus

esfareladas pelo vento. Pelo ângulo que olhava, tinha até uma certa beleza, analisando os contrastes de luzes, sombras e cores.
Suspirou, soltando ar e contrubuindo para a atmosfera de cansaço que pairava ao seu redor. Ela mesma não se sentia assim tão cansada, mas acreditava que tanta gente naquele mesmo estado de espírito acabava a influenciando de alguma forma. Tanto que toda a vez que entrava em um ônibus tinha vontade de poder sumir, tamanha a raiva que havia pego daquela atmosfera, aquele ar parado, de todas aquelas pessoas que ela nem sequer conhecia e já tinha um sentimento ruim, era inevitável. Sentiu-se mais pecadora do que nunca naquele momento e ainda assim sentiu a vontade costumeira de descer no próximo ponto e ir andando pra casa.
Distraiu-se com o cenário que tantas vezes já tinha visto de diferentes ângulos. Queria poder sumir, pensou novamente. Afundou um pouco mais na poltrona tentando não calcular quantas mil pessoas teriam sentado no mesmo lugar em que ela estava, seria pior.
Olhou para uma placa luminosa que nunca havia reparado, um dentista, ela supôs. Não enxergava bem de longe, então tinha que ficar com suposições as vezes. Ignorou um moleque que lhe fazia gracejos na esquina de uma rua e rezou para que o semáforo ficasse verde novamente. Se pudesse, mataria todas aquelas figuras que lhe apareciam. Depois ficou pensando desde quando tinha desenvolvido uma mente tão psicopata e irritada. Sorriu de leve, enquanto escondia a risada com uma tossida, para ninguém acusá-la de loucura precoce.
Pensou nas coisas que havia abandonado, pensou em quem tinha a deixado. Levantou-se, pegando suas coisas e vendo se não havia abandonado nada pelo caminho. Desceu daquele antro de melancolia e pensamentos obscuros e proibidos e respirou fundo, como que para trocar o ar mais rapidamente. Tomou seu caminho, olhando pro céu. Era apenas mais um dia, um dia comum em que sua mente divagava absurdamente no caminho para casa.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Invasão

E de wayalguma forma, tudo  vai se ajeitando em seu devido lugar, em seu devido tempo.
As coisas de repente começam a funcionar, os passarinhos tornam-se audíveis novamente, aquela música maravilhosa de boa começa a tocar e quando a gente vê, está cantarolando feliz da vida no meio de todo mundo. Daí pra frente, nos damos conta de que as engrenagens de nossas vidinhas vão voltando aos eixos vagarosamente começaram a girar. Surge a vontade de fazer uma nova tentativa, uma chance de fazer tudo mudar, como um chocolate no fim de um dia ruim para adoçar todo o amargo que ficou na nossa boca.
De repente o buraco negro desvia, o centro do furacão se distancia, a noite medonha acaba e faz um dia de sol daqueles de estontear, e aí dá pra perceber o vento batendo. E assim, pé ante pé, as coisas vão querendo começar a dar certo e não adianta querer ficar forçando, caçando e buscando por essas coisas, elas vem devagar, por elas mesmas, talvez por força divina, conspiração do universo ou porque o mundo gira mesmo.É do nada, não dá pra ficar esperando, porque é outro daqueles acontecimentos que a gente toma conhecimento enquanto abre a porta pra entrar em casa.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Sedução descamisada

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Apesar de adorar as frescuras e vantagens de ser mulher, se eu tivesse a escolha de poder ser homem por um dia, eu com certeza diria sim! Escolheria ser um lindo e pra piorar a situação: Seria extremamente sedutor. Daria rosas vermelhas para senhoritas que andam na rua, teria a postura decidida, o olhar determinado e a fala mansa e grave. Sorriria estrondosamente, distribuindo gentilezas a cada ser do sexo oposto. Senhoras com suas compras, menininhas em apuros, com tempo ainda para deixar muita moça difícil com o pensamento perturbado. Atenção não faltaria à ninguém, nem carinho. Um lorde.
Me vestiria impecavelmente. Nada de chinelões e roupas largas como lonas de circo. Testaria meu poder de persuasão usando a beleza e o charme e claro, testaria a sensação de andar sem camisa por aí.
Seria um homem e tanto. De tirar o sono, inclusive dos homens ao redor, gostaria de fazer todos eles sentirem uma certa confusão na cabeça. Talvez causando uma avalanche de inveja eu finalmente conseguisse fazê-los enxergar o que toda a mulher deseja.

Pauta para a Revista Capricho: “o que você faria se fosse homem por um dia?”

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Encontro

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Diga que a porta da minha casa é caminho para sua casa, diga que passou por aqui e sentiu saudade dos dias de sol, que estava andando sem rumo e veio parar na minha frente. Não há necessidade de assumir que sentiu falta da minha risada alta e que de repente queria me ver, eu vou fingir que não reparei.
Diga que já está tarde, que não está com muito tempo e que tem mais quinze coisas marcadas para o dia de hoje. Diga que eu não  te importo nem um pouco e que há coisas muito mais importantes no mundo do que eu, mas finja que se esqueceu e fique.
Conte-me sobre a sua vida, outro daqueles casos impossíveis que você sempre arruma, outra daquelas viagens sem explicação, tomando cuidado para esconder alguns detalhes e engrandecendo outros, mas faça-me rir como criança, arregalando os olhos de surpresa a cada frase dita.
Elogie-me como se isso fosse algo incomum, como se eu não estivesse acostumada a receber elogios, faça disso um grande feito por estar partindo de você, lembre-se de coisas que eu farei questão de não me lembrar, mesmo lembrando de cada detalhe, ria dos meus medos porque você mesmo já passou por um batalhão deles e eu não rirei dos seus por mais que tenha vontade, ainda por cima te direi algo reconfortante.
Se quiser, pode até brigar comigo, apontar tudo o que você considera um defeito em mim, diga que eu sou a mesma em cada centímetro de pele só por saber que isso me mata de terror, embale uma discussão infundada sobre algo que eu goste até que eu me irrite e tenha que parar de falar, resignada por alguns segundos, te fazendo parar e voltar atrás de tudo. Feche a cara e reclame como um velho. Diga oitocentas baboseiras, me faça ter raiva, me odeie e me abandone depois, mas agora venha.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Carta a um sentimento


Venho por meio desta informar-lhe que você não faz mais parte de mim. Eu colocaria de uma forma melhor: diria que você não me assombra mais, já que depois de tanto tempo, maiores foram os pesares do que as alegrias.
Espero sinceramente que depois de ter me ocupado por tanto tempo com falsas esperanças e com falsas soluções, você resolva tornar-se um pouco mais digno e não consuma tanto as pessoas que habitar, porque tanto eu como você sabemos muito bem as contas de lágrimas no travesseiro, lamentações, olheiras bem profundas e cara inchada durante longos dias que eu, somente eu passei, já que durante esses momentos de fraqueza, o máximo que você fazia era me deixar mais cansada.
Agora que me libertei de suas artimanhas, tenho certeza de que poderei caminhar com firmeza, admirando o azul com branco acima da minha cabeça, não mais o cinza carregado que fez parte de mim por tanto tempo. Sorrirei sem medo nas fuças de quem eu mais receava zombaria, porque agora eu sei o que me faz forte, agora sei por onde ir e farei questão de demonstrar isso, até para quem não quiser ver.
Ouso dizer, no presente momento, para sua total desgraça, que ando até cogitando me apaixonar novamente, destruindo todas as barreiras e ligas de ferro que você construiu com tanto afinco ao meu redor. E não digo isso a toa ou só para te assustar, digo isso porque vi com algum custo que o medo que você me fez sentir me fazia muito pior.
Serei feliz, não tenha dúvidas disso. Tanto mais porque aprendi que não depende de você, depende inteiramente de mim e do meu destino, e você não faz parte dele. E mesmo que você insista, mesmo que resista e se agarre a mim, não vai conseguir me dominar novamente, pois agora eu sei quem é maior e quem é que manda por aqui.
E não se iluda: não é você.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Sangue e água

blood

Dar murro em ponta de faca uma vez, duas, três, vinte vezes.
A mão começa a doer, começa a escorrer sangue pra tudo o que é canto, fluindo braço afora, respingando, espirrando e manchando tudo. Se bate tanto, mas tanto, que uma hora não dá mais. A coragem de esmurrar com gosto vai se perdendo quando é só a gente que se machuca na sentença.
De repente vai parando tudo: Vai parando o rumo, vai parando a coragem de continuar tentando e a curiosidade de ver se algo diferente acontece. Porque caleja, a informação de que vai ser sempre igual acaba chegando ao cérebro, cedo ou tarde.
Engraçado é que quando as circustâncias andam nessa direção, aparece uma chance de mudar tudo, uma daquelas que dá pra saber que é a luz do sol despontando. E aí que a vontade foi tirar um descanso, a coragem bateu em outra porta e só resta a dor na mão e os cortes pulsando e latejando sem parar e por mais que se queira, por mais que se saiba que tem tudo pra ser bom, a gente simplesmente não consegue se mover. Pudera! Foi tudo indo embora e se desfacelando e de desfacelada só resta a mão que não é garantia e nem promessa de coisa nenhuma.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Solta o Sapo!

Caco

Há alguns tempos atrás, quando eu era mais nova e insegura, eu morria de medo de falar as coisas.O vizinho fazia barulho de madrugada e eu quase morria de tanto tremer quando meus pais reclamavam. Dava uma boiada pra não entrar em uma briga e passava o maior nervoso quando eu via que a discussão estava ficando séria. Eu fugia de lavagem de roupa suja como o diabo foge da cruz. Hoje dou uma boiada pra brigar pelo que é meu por direito, pelo que eu acho certo.
Engolir sapo não dá. Não faz bem ter aquele nó na garganta e a sensação de “eu devia ter falado o que eu pensava”. Dormir com peso na consciência por não ter dito ou feito algo, para mim, é uma das piores sensações do mundo, ainda mais quando não tem volta. Por isso eu digo que engolir sapo não compensa em nada. É melhor arrumar um jeitinho de mostrar insatisfação e discordar da situação (ou chutar o pau da barraca quando é possível) do que ficar empurrando as coisas com a barriga e torcendo a cara de fazer algo que não me faz bem.

Pauta para a Revista Capricho: “Vale a pena engolir sapos?”

domingo, 25 de janeiro de 2009

Fome

Certa vez me disseram algo que me surpreendeu demais. Na hora, eu me revoltei e disse o contrário, querendo qlovehurtsue aquilo fosse uma besteira das maiores e que nunca mais fosse pronunciado. Não percebi a complexidade da frase e nem tampouco a veracidade dela, Foi há algum tempo e os meus sonhos brilhosos com príncipes em cavalos imponentes ainda eram frequentes e eles foram violados cruelmente. A tal frase que me foi dita: “Amor não enche barriga”. Assusta, faz os olhos arregalarem de medo e faz querer tampar os ouvidos e cantarolar uma música num ato infantil, mas é verdade. Depois dos olhares de ódio e de toda a revolta passada, eu me dei conta de que não são palavras jogadas ao léo.

Quero dizer, amor é lindo, é mágico e faz bem para todas as células do corpo, exercita o cérebro e libera endorfinas e toda aqueles termos científicos que dizem por aí e que eu não faço idéia do que sejam, embora saiba que faz bem. Mas não se vive só de amor, amor é bom, mas não é tudo. Não alimenta, não é oxigênio, não é a vida propriamente dita. Se eu fugir com o amor da minha vida nesse exato momento, em busca da minha felicidade e visando viver uma história intensa e duradoura. Apesar de lindo, romântico e digno de filme, é… impossível. Eu vou viver do que? Capim e brisa? Não dá. Amor é bom, mas por ser sentimento, carrega diversos outros sentidos e razões. Carrega o nome pesado da responsabilidade, da obrigação e da consciência, além do respeito e do compromisso. Envolve diversas complicações e muitos obstáculos, além de que não paga as contas, não compra a casa. A lista é muito mais vasta e muito mais complexa. Amor não enche barriga, não tira a sede, infeliz e literalmente. Amor é sentimento. Tem força, tem beleza e é extremamente complicado e indefinível. Por ser sentimento, deve ser mantido em seu devido lugar, priorizando algumas coisas e sendo priorizado por outras.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Mundo Encantado

Fake

Pra que fingir? É o que eu pergunto.

Ok, irei com calma. Ser fake não me parece muito certo. Ainda levo na esportiva quando é uma coisa saudável e quando quem usa tem um bom senso do ridículo e sabe onde ficam os limites entre o real e o imaginário. Mas se a coisa passa dos limites, é imperdoável: a pessoa esquece de quem é, de descobrir a mágica que há em seu interior e vive somente por seu personagem, perdendo toda a sua identidade.Pior, esquecendo que tem uma personalidade a ser conhecida dentro de si, uma personalidade a ser lapidada e descoberta de todas as formas possíveis.

Segurança com a personagem criada pode até existir, no momento em que se está conectado ao mundo da fantasia. Mas assim que se faz o log out desse mundo encantado, a segurança toda se vai, dando lugar a uma pessoa cheia de complexos, que não sabe se relacionar com ninguém com a cara nua, de peito aberto e aceitando quem é de verdade, com todos os seus reais defeitos. Ser fake faz mal, limita uma pessoa e é a prova de que essa pessoa não se aceita da forma que é, salvo raras exceções.


Pauta para a Capricho "Até onde é legal ter um fake?"

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Suave

Por um longo tempo na minha vida, eu não acreditei no peaceque era a paz. Para mim, paz era a mistura de nada com coisa nenhuma, sem graça que só ela. Passei incontáveis anos-novos fugindo de usar branco. Paz eu não queria de jeito nenhum.

Queria correr, ver tudo, estar em três lugares ao mesmo tempo. Queria amor, alegria, sorte, paixão… Não paz. Eu queria estar inquieta, terminar logo o que eu comecei. Queria movimento, resolução imediata, loucura, sofrimento integral. Nem me lembrava mais do branco.

Aí de repente, a cortina balançou, o vento quente entrou pela janela, o cheiro de tarde preguiçosa, a música tranquila a tocar e eu notei que mesmo com a minha teimosia, ela estava ali. Olhei para o céu azul, deixei um sorriso brincar no rosto sem motivo algum e senti o nada momentâneo na mente. Como eu pude renunciar àquilo? Por dois segundos me repudiei, por três, tive raiva e nos próximos setecentos segundos tudo o que eu queria era sentir era o branco voltando a fazer parte de mim. A partir daquela brisa, pude voltar a me sentir tranquila.

É, eu estava em paz. Eu estou em paz

domingo, 11 de janeiro de 2009

Bem Resolvidas?

Garotasbitch_inside vulgares existem aos montes, espalhadas pelos cantos não tão sombrios das cidades. A vulgaridade não está exatamente no modo de vestir ou de falar: é o conjunto de um todo, e se encontra principalmente no modo como essas garotas se comportam.

Com saltos mega altos, e mais pele aparecendo do que escondida, essas moçoilas ficam muito mais evidentes, mas nem sempre essa façanha é necessária, porque as vezes elas aparecem com a famosa “capa de santa”.

Meninas de família, bem comportadas, dizem que querem casar e ter um casal de crianças, serão as verdadeiras Amélias da vida. Mas a coisa muda quando elas se vêem livres da família que sempre tratam como a prioridade maior de suas vidas.

Fumam e bebem quase como homens, e agem sem nenhum pudor. Saem com quinze homens em uma semana, se vendem por uma lata de cerveja e agem como se isso fosse sinal de que são bem resolvidas, o símbolo da feminilidade moderna. Pobres meninas, não percebem que a única coisa que conseguem com isso é a desvalorização, por serem símbolo de vulgaridade.


Pauta para a revista Capricho: Quando o sensual vira vulgar?

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Verões Dourados


O termo "férias de verão", para mim, sempre vem seguido de um suspiro.
Meus verões sempre foram dourados e é difícil dizer qual deles foi o melhor, porque quando tento pensar em algum mais bonito, o dourado de todos eles me ofusca de uma forma absurda.
De tantas cores e sabores de verão, eu escolho os tempos de criança, onde tudo é sempre mais fácil, quando a preocupação era com os queimados do dia. Escolho os tantos sabores de sorvete que tive oportunidade de experimentar com o sol escaldante, as roupas leves e a despreocupação que eu tinha na pele de moleca que sempre fui. Incômodos de areia pelo corpo, que sempre me foram um carma da praia, o mar salgado onde eu me tornava um peixinho, o cheiro da maresia.
Os melhores verões sem dúvida foram aqueles que passei sem me preocupar, sem me lembrar de nada, porque ainda não havia nada para ser lembrado, ou os que eu alugava o meu avôzinho para brincar comigo...
Pensando bem, é injusto eleger um só, verões serão verões até a eternidade e toda a mágica que eles carregam (porque verões são mágicos, é fato) também.
Aos verões dourados, e à todas as lembranças que ficaram gravadas em nós, sem desprezar de jeito nenhum todas as que virão.

Pauta para o site da Capricho : "as melhores férias"

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Chuvoso


Recostou-se a parte interna da janela, o vento que entrava pelo vidro semi aberto só confirmava as suas previsões naturais. Sentira o cheiro dela mais cedo, nunca errava. Quando viu o vento mudando de curso, tomou seu lugar.
Fazia isso sempre, estivesse bem ou mal, ela estava sempre ali presente, debaixo daquela cortina de nuvens baixas. Aprendeu a achar aquilo bonito, mesmo aquelas nuvens sendo acinzentadas, mesmo que cobrissem o céu azul.
Acomodou-se, depois de vestir a blusa fina. O vento não era gelado mas sentiu-se estremecer mesmo assim, pois sentia aquele vazio dentro de si novamente. Foi ficando tudo mais escuro e seus pensamentos a levavam por lugares escuros também, pensando o que ela seria, pensando o que ela realmente queria. Isso, ela nunca sabia e era o seu principal motivo de preocupação. Suas vontades eram imediatas, e se pudessem ser realizadas, bem. Se não pudessem, ela logo tinha uma outra intenção guardada e não esperava. Seguia seu caminho rápido demais, e qualquer ameaça de prisão, fossem paredes, redes ou grades fazia com que ela se remexesse inquieta.
Silenciou sua mente, a qualquer momento agora.
Não errou, de repente as gotas começaram a cair, manchando o chão, deixando-o mais escuro. O chão cheio de bolinhas a fez dar um meio sorriso, mas não durou muito. Rapidamente o chão estava completamente molhado.
Observava os respingos na parede mais próxima. Cada pingo que caía a fazia melhor, as cordas de seu coração de repente afrouxando-se. Não se cansava de assistir àquilo. Era uma obra mágica, para ela, mais bem feita do que qualquer outra mais complexa.
Enquanto girava os olhos para a árvore verde rejubilando-se com a água fresca, pensou mais uma vez em seus medos, por onde andaria. Seria sozinha, ela sabia. Por alguns segundos, desejou ser como os tantos outros que carregavam a sua necessidade de companhia. Ela tinha, verdade, mas era outra coisa na sua lista de vontades passageiras. Assim que se sentia saciada de companhia, desembaraçava-se suavemente e seguia. Dois pés, apenas um par de pegadas. Só.
O cheiro agora era carregado pelo vento que entrava pela fresta da janela. Chegou até ela suavemente. Aquele cheiro único, exclusivo. Podia jurar que aquele cheiro se fundia a ela de uma forma que era difícil de separar. O cheiro leve, inconfundível de chuva. Deixava-a tonta e ela não podia pensar em nada mais quando aquele cheiro invadia suas narinas.
A porta aberta. A cortina balançava enquanto o vento carregava parte da chuva para dentro do aposento agora vazio.
Era uma pena que ninguém a pudesse ver naquele momento, como uma criança, pulando de poça em poça enquanto ela mesma tornava-se uma poça. Estava encharcada e seu cabelo molhado a acompanhava desgovernado. Depois que parou e sentiu as gotas de chuva em sua pele num carinho violento, sentiu se reconfortada. Poderia ser sozinha, mas ela sempre teria um carinho inteiramente reservado a ela.