terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Um erro, uma vida

Estava sentada em seu sofá, encostada no vidro frio da grande janela do terceiro andar. Dela, podia ver a rua cinzenta e deserta, pois já se passava das três da manhã.
Por muitas vezes em sua vida, encontrou-se do mesmo jeito: olhando para a rua, mas perdida em seus pensamentos.
Quando mais jovem, teve uma vida que qualquer garota da idade dela sonhara em ter, pois era independente, espontânea e feliz ao lado do amor de sua vida.
As risadas ao lado dele eram altas, escandalosas. Ele fazia de tudo para ver um sorriso dela, ouvir uma risada, faria o que fosse preciso para que ela ficasse feliz.
Levava-a para todos os lugares que ela queria, tirava fotos para depois pendurá-las na parede do quarto deles, dançava com ela nos braços como se o dia seguinte nunca fosse acontecer. Cantava bem baixinho, com sua voz rouca, para fazê-la dormir.

Os dois foram amadurecendo juntos, trabalhavam e rezavam para que o dia passasse voando para que pudessem passar o final da tarde e a noite juntos, fazendo planos, desenhos, projetos ou mesmo trabalhando, concentrados em suas tarefas, mas nunca distantes. Ligavam o rádio para descontrair. Saíam à noite, como os dois diziam, em busca de aventuras.
As vezes, a garota chegava a questionar a felicidade que a vida lhe dava. Ela tinha tudo que queria, o maior sonho dela havia se realizado: encontrara seu príncipe encantado e era feliz ao lado dele.

As lágrimas que lhe caíam sobre o rosto naquela madrugada fria eram a comprovação de que o maior desejo dela era não ter questionado a vida, pensava que se não tivesse mexido naquele presente, ela nunca o teria tirado de seus braços.
Mas aí então ela se lembrava de que o erro havia sido dela. Ela jogou seu sonho em um rio qualquer, por um egoísmo desenfreado. Sua consciência fazia questão de lembrá-la todos os dias de que ela deveria ter aprendido a ser compreensiva, deveria ter se dedicado àquele amor tanto quanto ele.

Passavam por algumas dificuldades, a conversa não fluía mais como antigamente, ele estava concentrado em um projeto importantíssimo para sua carreira, dizia a ela que assim, poderia dar a ela tudo o que ainda não havia dado. Ainda assim, ela sentia um ciúmes injustificado daquelas anotações, algo que nem ela mesma sabia explicar. Estavam se afastando, ela sentia.

Mais uma discussão sobre aquilo, como tantas outras que aconteceram. Ele tentava fazer com que ela desse risada da situação, mas qualquer tentativa feita, só parecia irritá-la mais. Ele era humano e, por fim, acabou perdendo a paciência com ela.
Ela, por sua vez, foi até todas as anotações que ele havia feito, todos os cálculos, ensaios e fotografias e os rasgou, amassou, jogou tinta de caneta. Não lembrou que ele havia dedicado madrugadas a fio naquele material, sempre depois que ela dormia.
Suas memórias ficavam turvas a partir daí, lembrava-se de algumas lágrimas derramadas por ele, algumas peças de roupa que ele pegou e levou sem nem sequer olhar. E partiu, deixando-a estagnada no quarto.

Agora, as lágrimas escorriam pelo rosto da mulher crescida que via as proporções do erro que havia cometido e que por muitos anos marcava seu coração com as consequências. Ela conseguiu fazer com que sua vida não acabasse naquele momento, conseguiu entender que ele havia seguido com a vida e, espelhando-se nele, fez o mesmo.
Sabia que ele ainda a amava, pois um amor tão grande como o dos dois não iria se acabar momentaneamente.
Sentia vontade de ligar, procurá-lo, fazer todas as perguntas que já haviam passado por sua cabeça até aquele dia, mas tinha a plena consciência de que aquilo só iria machucá-los mais.

Ela aprendeu a lição que a vida lhe ensinou e, por toda a sua vida pagou o preço: Há determinadas atitudes humanas que nem mesmo o amor pode entender. E, sendo assim, nem mesmo o amor pode perdoar sem que grandes cicatrizes sejam deixadas.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Analogia

Quando há amor, não basta esforço só de um lado.
É como em um cabo de guerra a dois, mas nenhum dos dois quer ganhar. Os dois equilibram, cada um em sua ponta da corda, utilizando uma força que é agradável tanto a um, como a outro.
Porém, há momentos em que, sem perceber, um exagera na força que coloca na corda. É involuntário, mas a outra pessoa, por mais que ame, vai sentir a força colocada e, sem entender o que acontece realmente, colocará mais força do seu lado também.

E aí vira guerra. Mas amor e guerra não convivem, não existem juntos.
Como se reage a isso?

sábado, 8 de janeiro de 2011

De ponta cabeça?

respeito Respeito é bom, eu gosto e conserva os dentes.
Se você faz parte do meu grupo, temo que ficaremos em breve, desiludidos, pois cada dia há menos membros fazendo parte dele.
O respeito está correndo um gravíssimo risco de extinção e cada dia eu tenho mais certeza de que as gerações mais novas cada vez menos saberão o que significa o ato de respeitar alguém.
Quando o noticiário começa, eu tenho vontade de colocar no canal dos desenhos animados, porque todos os dias as notícias superam o nível da barbárie. Me deixa enojada saber que seres humanos, orgulhosos de serem seres racionais, cometam tais atos.
Meninas de 13 anos puxando o cabelo umas das outras na porta das escolas, se estapeando por motivos insignificantes. Idosos sendo agredidos por enfermeiros dentro de suas próprias casas. Enfermeiros esses que estudaram e sabiam que em determinado momento poderiam vir a cuidar de um idoso.
Pessoas espancadas até a morte porque estavam usando a camisa do time que torce e tiveram  o azar de passar na frente de um grupo que torcia para o time rival. Por causa de jogo de futebol, um pai de família morreu no meio da rua. Um pai mata o filho porque a criança estava chorando demais, como se a indefesa alma fosse um saco de feijão. Filho que matou a mãe porque teve sua vontade negada.
Professores que vêem cadeiras atiradas em sua direção por seus próprios alunos.
E tais acontecimentos estão ao redor de mim todos os dias. Bom dia e obrigado estão virando lenda e dando lugar a bufos e exclamações irritadas.
Casais que têm anos de relacionamento, um bom convívio e várias histórias pra contar de repente vêem o relacionamento desmoronando porque um dos dois resolve trair e trocar confiança e amor por uma bunda cinco centímetros maior ou uma enxurrada de promessas que não valem meia pataca e que nunca serão cumpridas. Aí depois essas pessoas têm a coragem de dizer que traição só faz bem ao relacionamento, arrumando um jeito de se sentirem mais confortáveis com seus atos. O que faz bem ao relacionamento é sinceridade. E respeito, veja só.
Pessoas que tem seus sonhos destruídos e resolvem destruir os sonhos dos outros, causando uma tsunami de alquebrados e infelizes.
Vizinhas se xingando, crianças que mal sabem falar presenciando brigas violentas dos pais, avós largados no asilo sem nenhuma visita no domingo.
E o mundo segue cada dia mais egoísta. "O que eu ganho estendendo a mão pra quem precisa de ajuda?". Gente que se faz de surda e que acha que só eles mesmos têm razão. "Os outros que se ferrem", "Eu passo por cima até da minha mãe" e afins estão substituindo a tão conhecida frase que inicia o texto. O que me deixa impressionada.
O que sei é que, mesmo me sentindo uma alienígena com três pernas e cinco braços, continuarei a utilizar as "palavrinhas mágicas", a dar bom dia e a sorrir pra quem eu bem entender. Continuarei a respeitar as pessoas, os mais velhos, os mais novos, os de minha idade, respeitarei como gosto de ser respeitada. E espero que quem leia as minhas humildes palavras tenha na cabeça que não custa nada, nem sequer um minuto do dia, respeitar as pessoas. Ou então, estaremos contribuindo para que o mundo caminhe rapidamente para a desordem definitiva.