sexta-feira, 26 de abril de 2013

Lição



A hora de ser feliz é agora.
Aliás, toda a hora é hora de ser feliz, porque não adianta: nada do que a gente fizer - cara feia, espernear, jogar as coisas... - vai fazer com que os  problemas corram com medo. Por que não desfazer essas rugas tão feias de preocupação e pesar no rosto e colocar umas ruguinhas de riso?
Aquele peso nos ombros, aquele aperto no peito, de que servem? Pra que correr tanto? Só vai fazer a gente morrer mais rápido, virando uma esquina e trombando em algum acidente que poderia ser evitado se ali atrás, a gente parasse pra pensar um pouco e respirasse fundo enquanto isso.
Eu não sou um bom exemplo disso e, se eu escrevo, é porque eu também preciso aprender.
Aprender a relaxar, aprender a dar um pouco mais de risada com as coisas que acontecem no dia a dia, soltar as unhas da palma da mão de apreensão e bater na mesa porque tive uma ideia brilhante.
É impossível rir de uma doença, é claro. Mas é possível encarar as coisas com bom humor. Porque enfrentar, vai ter que enfrentar de qualquer jeito. O caminho mais fácil é sempre aquele que a gente encara com a cabeça erguida e o pensamento sempre pro lado da luz.
Pensando assim, tudo se torna claro. O que é difícil não fica tão ruim (pode ser que ainda não fique fácil, mas parece que você é mais forte).
Diga bom dia, sorria para as pessoas. Não seja tão duro! Ninguém tem nada a ver com os seus perrengues e ninguém além de você pode resolvê-los.
É sexta feira e você não vai sair? Pegue um livro, escreva algo bom, vá fazer aquela receita que você sempre quis e sempre teve preguiça. O mundo não vai acabar porque você não vai sair e não vai parar até que você se sinta melhor.
Pare de sentir auto piedade. Se você não está se sentindo bem, pense que logo vai melhorar. 
Se vai, vá. Se não quer ir, não se force. Só não deixe de ir porque acha que não tem roupa.
Não tenha tanta preguiça. É bom não fazer nada as vezes, mas sempre vira doença. Você é uma pessoa, não uma lesma.
Ocupar a cabeça é um santo remédio e fecha a cabeça de inutilidades as quais você não precisa - e nem deve - pensar.
Pense calmamente, mas pense rápido. Se ficar indeciso, vem alguém e leva o que era pra ser seu num piscar de olhos.

Esse texto, como eu disse, serve inteiramente para mim e escrevi com o desejo de que eu possa acordar.

Mas pode ser que te acorde também :)

sexta-feira, 22 de março de 2013

Mágica das almas



Ela não sabia de onde havia saído aquilo, aquele impulso. Apenas havia acontecido como um vaso acidentalmente cai ao chão, espatifando-se em milhões de pedacinhos e nunca voltando a ser o mesmo, ainda que houvesse uma tentativa de ser colado.
Havia sido assim com ela e ela nunca voltaria a ser a mesma.
Para ela, um beijo nunca tinha sido apenas um beijo. Sempre foi sinal de um contato extremo, onde duas almas que se encontram e descobrem uma ligação necessitam se tocar, se descobrir e dar um sinal de um afeto maior do que qualquer outro sinal, uma forma de reconhecimento. Um beijo era um modo de se conectar, de demonstrar um carinho e uma afeição que estão além das palavras, pois cada uma que pode ser dita está muito aquém do seu significado real.
Ela já havia se enganado algumas vezes, onde tentara colocar palavras em um beijo para pessoas que não entendiam seu significado, estavam longe dela, longe de sua expressão e acontecia que não havia aquela mágica - nada de fogos de artifício, sininhos tilintando, nem fadas jogando pó mágico ao redor. Era mais realista - de um sentimento crescendo aos poucos dentro de si. Ao invés disso, apenas não se sentia nada, nem o mínimo de frio na barriga, daqueles quando se tropeça na calçada, a não ser um arrependimento pela grosseria feita.
Sim, ela sentia que era uma grosseria feita com a pessoa e principalmente com ela mesma, por não entender o que sentia e por levar para frente algo que ela devia saber não ser possível acontecer, pois não ocorria o que as pessoas costumavam chamar de "química". Aquela não era a definição certeira para o que deveria acontecer no momento de um beijo, que envolvia muito mais coisas além de apenas elementos químicos. Sentimentos não poderiam ser comparados a elementos químicos, eram complexidades diferentes, quase opostas.
O que havia acontecido dessa vez não tinha sido um erro daqueles que costumava cometer por julgar conhecer os sentimentos muito cedo e, de certa forma não havia o peso na boca do estômago, quase como um soco, do arrependimento. Mas ela sabia que tudo estava fadado a ruir, ela tinha plena consciência de que havia conhecido uma alma semelhante a sua. Haviam os mesmos interesses, as mesmas características, objetivos, sonhos, sorrisos, gostos. Ela sabia que havia também algo essencial para aqueles casos: discordância. E mais do que apenas discordância, respeito no momento em que elas surgissem.
Sabia como o beijo seria antes mesmo de selar os lábios nos dele, sabia que seriam beijos calmos, tranquilos, sem pressa de nada, sem acelerar o destino. Apenas aceitando o momento, sentindo o que era para ser sentido.
Tudo confirmou-se naquele momento, mas foi ainda melhor do que ela imaginara, foi mais além de tudo o que ela já havia sentido em vida. Naquele momento, sentiu uma certeza, sentiu como se tudo o que é intangível pudesse ser concreto e tudo o que é palpável pudesse se desfazer em poeira com o mais simples pensamento, estava tudo certo, mas surpreendentemente errado.
Ela sabia que aquela seria a sua alma, aquela perfeita para tudo o que ela havia sonhado enquanto tinha seus olhos abertos, mas também tinha a certeza de que quando abrisse seus olhos e desencostasse suas mãos de seu ombro, uma distância enorme se colocaria entre eles, forçando-os com mãos de ferro a separarem-se por um longo tempo, por motivos que talvez nem mesmo o tempo conseguiria explicar. Sabia que ele estaria partindo nos próximos segundos, embarcando em algo que ela não poderia mensurar.

Naquele turbilhão de sentimentos, com tudo aquilo chacoalhando dentro dela, a pergunta que tinha feito desde a primeira vez que se encontraram e que trocaram a primeira palavra ecoava em sua mente "Será que conseguirei encontrá-lo?"

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Dezesseis Gatos


Que eu não seja uma pessoa rancorosa.
É tudo o que eu mais tenho desejado nos últimos dias, apesar de as pessoas estarem cada dia mais dedicando-se a caprichar na tarefa de me aborrecerem, de não respeitarem meu espaço, aperfeiçoando suas técnicas toda vez que eu decido que uma tática antiga não pode me afetar.
Sentir rancor, ao meu ver é pior do que sentir ódio.
Ódio é momentâneo, aquele tremor nas mãos, onde eu não sei se estapeio o mundo ou se me sento em cima delas e me aquieto. É um momento de descontrole onde eu  não consigo esclarecer se a errada sou eu ou se o resto do mundo entortou.
Mas dá e passa em segundos. Acabou e é como se tudo não tivesse passado de uma tortura, um choque daqueles levinhos.
Rancor é outra coisa, é muito mais intenso - mas de um jeito ruim -, um gosto amargo na boca que não sai nem chupando bala, nem escovando os dentes. Vai ficando ali, se fazendo presente cada vez mais e quanto mais você se esforça para não se importar, mais forte fica.
É como se fosse uma sombra que vai crescendo pelas bordas, uma planta daninha que vai crescendo devagarinho e tomando os espaços lentamente.
Rancor vai fazendo isso com a alma, pretejando e dominando aos pouquinhos e eu digo que não quero ser uma pessoa rancorosa porque tenho medo. Tenho medo de esquecer que as pessoas têm defeitos, limitações, gostos e hábitos diferentes dos meus e passar a não aceitar mais as coisas, pensando que o mundo todo gira ao meu redor e que seja feita minha vontade, enxergando tudo negro e sombreado quando se recusam a fazer o que eu quero.
Tenho medo de não ficar mais feliz em olhar para cima e ver os pingos finos da  garoa caindo atrapalhados, de não ficar mais feliz de encontrar moedas nos bolsos das minhas calças e ao invés disso reclamar da minha burrice de deixar as coisas espalhadas. Tenho medo de abandonar a ideia de um cachorro bonzinho e festeiro por dezesseis gatos desconfiados que arranham meu sofá e desfiam a minha cortina, em uma casa que não pode ver luz porque sua dona passou a odiar o sol.
Faço disso meu lembrete, minha oração, um pedaço do meu coração: Que eu não me  esqueça nunca de ver que para tudo há um motivo, que cada pessoa na minha vida me ensina algo e que nem tudo deve ser sempre do jeito que eu quero.