sexta-feira, 22 de maio de 2009

Cadeira

chair

Estava sentada, olhava para o espaço vazio à sua frente, ao seu redor ao mesmo tempo em que olhava para o espaço em branco na sua história. Quando pensava nisso, ela via um caderno antigo, amarelado, com linhas já quase se apagando e sem nenhum vestígio de carvão ou de tinta da cor que fosse. Não havia nada, só branco.
Sentia que os minutos de sua vida se passavam rasgando por ela, sentia que todos eles passavam por entre seus dedos e que seus dedos eram despreparados demais para agarrar qualquer um deles. Cada minuto era uma lâmina fina cortando a sua pele, rápida e imperceptivelmente.
A cadeira era dura demais, suas costas reclamavam, suas pernas formigavam. Toda a dor era ignorada, no máximo um movimento leve era feito, ela não podia aparentar desconforto de modo algum, era uma regra dela para ela mesma. Então era isso que ela fazia: um movimento simples e quase gracioso, como um movimentar de cabelos e mais nada. Aguentava naquela pose quanto tempo fosse preciso. A cadeira era dura, era dura que nem a vida. "Se a vida fosse menos dura, não teria a menor graça.", ela se lembrou automaticamente, dando um meio sorriso particular e quase feroz. Quem visse de fora não entenderia, teria vontade de decifrar o pensamento que se passava pela cabeça dela, acreditaria que fosse um pensamento sujo. Mas não era, não era sujo. Era um pensamento forte e corajoso, apesar de sua crença de que sua força e coragem tivessem sido deixados em alguma sarjeta imunda da cidade e levados por alguma chuva forte que tinha dado nos últimos dias. Ainda assim, seu pensamento era corajoso e intenso, pelo menos isso. Ela não se considerava nem um, nem outro, ultimamente. Mas ainda assim, não desacelerava e não tinha idéia do porque. Ela não se acalmava e não estava satisfeita com isso, porque aquele nervoso contínuo estava se misturando a ela de tal forma que chegaria um dia que ela não saberia separar um do outro.
Aquela fúria estava em seu olhar, quente e arredio. Desses olhares que não ficam dois segundos no mesmo lugar e que ainda assim não são assustados. Aquela fúria estava em suas mãos, que apertavam qualquer coisa como se fosse a beira da rocha que salvaria a sua vida. Objetos de cristal deveriam ficar a uma distância segura, ela se lembrou com outro sorriso, dessa vez mais divertido.
Era assim sempre, sua vida era cortante a cada minuto e dura que nem a maldita cadeira em que estava sentada mas ela sempre acabava encontrando um gracejo a ser feito, sempre dava risada de algo, mesmo que fosse banal, mesmo que não tivesse vontade. O som do seu riso e o movimento incomum que ela fazia com o corpo, com os braços e com o rosto eram um bálsamo que a incentivava a continuar, apesar de que ela ainda não havia se conformado em como arrumava jeitos de continuar e continuar. Ela sempre arrumava uma forma de rir, de apertar os olhos nem que fosse pra conter as lágrimas que vinham e dar um sorriso, nem que fosse para sorrir da própria dor.

30 comentários:

Vinicius Kmez disse...

Como o orkut mesmo disse "A ausência total de humor deixa a vida impossível"

De uma maneira ou de outra você acabou passando exatamente isso heim amor..

Cada vez melhores os seus textos


;*

Giovana disse...

muito bom o texto, adorei.

;*

*+ButterflY PrincesS+* disse...

Essa cadeira lembra a cadeira do filme O chamado... rs

Vc assistiu?

Eh show!!

;**

Marcela disse...

ô Aninha, que lindo o texto, cara! Assim que você tá se sentindo, é? Te digo uma coisa: por mais que a nossa vontade às vezes seja de jogar tudo pro ar e sumir, ainda existem motivos para nos fazer sorrir; eles só se tornam menos visíveis quando nos sentimos tristes, irritados, ou coisa do tipo. Tudo sempre fica bem no final, muito bem. Continue escrevendo, eles aliviam quase toda a nossa dor (vai dizer que não? :) Adoro aqui, amor :*

Anônimo disse...

Mas a menina esqueceu que não dá pra ser forte sempre...

beijos

Bianca disse...

É, como eu disse lá no meu blog, o melhor que temos a fazer é tentar refletir o máximo de sentimentos bons, e não deixar que os ruins tomem conta. Ou seja, não deixe que isso te abale completamente, coma muito chocolate e relaxe. :D


Beijos Aninha

- disse...

nossssssssa, adorei o seu texto! de verdade mesmo!
adorei o jeito que voce escreve, muito bom mesmo!
comecei meu blog hoje, se der passa lá =)

~*Rebeca*~ disse...

Aninha,

Esse foi um dos seus textos mais lindos que já escreveu. Essa cadeira dura da vida, ensina onde vende as almofadas dos sorrisos
acolchoados.

Beijo grande, menina linda.

Rebeca

-

Anônimo disse...

gatinha o importante é sempre achar um motivo para rir, isto é o que mais importa, belo texto meu anjo

Rafael Sperling disse...

Belo texto, hein!!
Bjs

Bill Falcão disse...

É assim mesmo: muitas vezes, encontramos cadeiras duras, momentos difíceis, e temos que sorrir pra enganar a dor.
Bjooooooo!!!!!!!!

Mari (: disse...

gostei muito do texto. É bom saber enfrentar as coisas, nem sempre as cadeiras tem almofadas pra amenizar o desconforto e temos que lidar com isso.

Mayana Carvalho disse...

"Ela sempre arrumava uma forma de rir, de apertar os olhos nem que fosse pra conter as lágrimas que vinham e dar um sorriso, nem que fosse para sorrir da própria dor"

..Porque por tras de cada sorriso existe uma lágrima.

Vanessa disse...

Mais um post MEGA intenso! E o final? "Ela sempre arrumava uma forma de rir, de apertar os olhos nem que fosse pra conter as lágrimas que vinham e dar um sorriso, nem que fosse para sorrir da própria dor."
Gostei muito do texto, principalmente desta parte aí!

(www.pollyok2.zip.net)

Tammy disse...

arrazando sempre nas suas formas de expressar,
reflita suas decisões e seus conceitos e seja feliz =D

Marina disse...

obrigada pelo comentário no meu blog e pelas belas palavras, modeluda!

adorei seu texto tbm!

acho q, realmente, estamos atravessando uma fase parecida.

pensamento positivo!

BjO!

Aline disse...

Boa analogia.

Seus textos estão tão sérios. Espero que esteja tudo bem.

Beijos

Leandro Lima disse...

Sabe muitas vezes não nos acomodamos a situações como também não nos acomodariamos cadeiras desconfortaveis, e assim algumas pessoas preferem sofrer e se acustumar com o desconforto... ou outras ir a procura da felicidade assim procurando seu melhor conforto...

O Profeta disse...

Quero ser barco que foge ao farol
Quero que o vento dance nos brandais
Quero ser viagem de rumo incerto
Quero ser a descoberta na procura do mais

Da próxima vez
Quero ser estrela-do-mar
Um golfinho de chapéu de coco
Um búzio com o som do chamar


Uma boa semana

Tha ! disse...

euu sempre faço isso , tento disfarçar a dor , "rir nem que for da minha prpria dor "!

bjoos liinda .

Sofia N. disse...

Tem uma hora que o sentimento angustiante nem cabe mais por dentro.
Aí o que resta é o sorriso, nem que for de desespero!

Bjs

Empadilha disse...

fazia tempo que eu num passava por aqui tinha esquecido quão bom era seus posts!
ah e aproveitando, quando não tiver nada pra fazer, mais nada mesmo.rs...escuta "meu" podcast(podrir)é uma conversa informal entre amigos, tentando puxar p/ o lado engraçadO!
http://podrir.blogspot.com

Bih Araújo ; disse...

Nada de deixar pensamentos negativos por perto. POSITIVIDADE sempre (:

Patrícia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Patrícia disse...

Acho que já comentaram o que eu ia dizer. Que a vida é dura, e fica pior se não acharmos graça disso.

sso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
sso disse...

Você escreve muito bem, parabéns.
Achei um tanto quanto parecida comigo a pessoa a quem se referiu no texto, enfim, beijos.

Ludmila Bello disse...

aninha, você me impressiona. eu nao consigo evitar pensar na vida quando venho aqui te ler...
lindo texto, beeijo :*

Bianca disse...

Vim aqui achando que já tinha atualizado.. haha
Mas eu espero
Beijos Anninha :*

Pinhais Virtual disse...

Cadeira... essa estrutura de madeira... na qual depositamos nossa poupança, e onde passam-se por carregar os pesos de nossos... AH... NÃO SEI FAZER POESIA SOBRE CADEIRA... hehe

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Abracios...