
Chega uma hora da sua vida em que você cansa de errar. Cansa de escolher o caminho errado sempre, a pessoa errada sempre, mesmo que a sua inclinação para esses erros continue a mesma.
Chega uma hora em que você cansa de sentir dor, porque a dor que você sentiu ao longo da sua vida até aqui parece que é o suficiente para preencher não só a sua vida, como a de todos os outros que te cercam e isso te basta imensamente. Você quer se ver livre dessas crises que você tem e quer isso logo, quer poder colocar óculos escuros e ver o verde brilhante das árvores no meio da cidade debaixo do sol, e pensa no quanto isso vai ser incrível, ao mesmo tempo em que volta a sentir todos os hematomas da tua alma reclamando mais uma vez. E você pensa no fato de não sentir mais nada por ninguém e se interessa por isso, porque dessa forma as dores seriam reduzidas consideravelmente. Essas dores infernais são feitas basicamente de sentir errado, de acreditar fiel e insistentemente em uma coisa que não vai funcionar, que não tem um pingo de futuro e mesmo assim toca uma música tão atraente e sedutora que você não consegue parar de dar ouvidos.
E daí você também começa a desenvolver um tipo de raiva pelos que te cercam e pelos que te querem bem, porque eles, apesar de quererem te ver feliz, não entendem absolutamente nada do que você sente e querem a todo custo te convencer que as coisas que você quer te causam sofrimento, sem nem mesmo perguntar se você quer esse sofrimento. Porque isso acontece. As vezes o que você mais deseja é agarrar tudo o que você quer tão forte e tão possessivamente que você nem pensa nos machucados e no sofrimento que isso vai te causar. Apenas quer e pronto, ninguém tem que ter nada a ver com isso, mesmo que o que você esteja agarrando seja um cacto ou um conjunto de facas afiadas.
Chega a hora que você cansa de andar errado, de pisar torto e de apertar lâminas nas mãos, chega o momento em que você deseja mudança desesperadamente e clama por ela, e grita e se debate contra qualquer coisa que for oposta a isso.
Você deseja tanto por ver as coisas mudando e seguindo o fluxo do qual nunca deveriam ter fugido que se dispõe até a esconder todas as coisas podres que foi criando e acumulando dentro de si e pisa forte no chão, apertando os dentes com a mesma força que vai demonstrar ao mundo e a você mesmo a partir daquele momento. E é isso que você faz, é isso que você segue, é assim que vai ser daqui por diante.