Meu coração é uma mancha. Uma mancha pulsante, vermelha, meio escura. Vibrante como um coração jovem que já viu uma infinidade de coisa, mas que sabe que tem muito mais a ver.
É uma nuvem branca e fofa, tal qual desenho de criança, de inocência inexplicável, doce e cheia de lembranças como um algodão doce. Além disso é fogo descontrolado, disparado e incessante, mesmo quando me faz acreditar que caiu num buraco negro de meus interiores e sumiu sem deixar vestígio. É chama brilhante e sedutora, lenta, forte e bruxuleante.
Meu coração é feito de milhões de estrelas que vi num céu de verão lá do outro lado do mundo e elas piscam para mim sem nem mesmo saber o porque, dia e noite, sem parar. É sombra perigosa e ameaçadora, cratera funda e inflamada que surge nas noites vazias que inevitavelmente ocorrem na minha existência. É viúva louca vestida em véus negros no meio do carnaval, chorando as mágoas de um passado que lhe pertenceu e desejando um futuro que nunca será seu.
Ainda assim é feito de plumas e paetês, sempre novos e sempre, sempre fazendo alarde brilhante e chamativo por onde anda, despertando olhares curiosos. Ainda assim é vitrola antiga que toca sem parar uma doce melodia amarga e as vezes dá lugar a batidas profundas e gritos estrondosos, quando não mistura tudo e me envolve em uma mistura de sentir, sem nunca deixar de tocar.
Coração que é tão grande que carrega mesmo sem querer, mesmo sem parecer, todo o sentimento – e um pouco mais – que consegue carregar, ele que acelera, adolescente, sempre que pode, porque lhe é permitido. Porque coração é vivo, é barulhento, espalhafatoso. Foi feito para isso.
Se um coração não bate, nem acelera, nem nunca faz nenhum baile da saudade moderninho e nem nunca se rebela com batidas fortes e envolventes, não é coração. Coração que só bombeia sangue é frívolo e priva as pessoas de uma existência muito mais significante. Coração que se deixa só pulsar não carrega sentimento, apenas é um músculo a mais.
sábado, 25 de abril de 2009
Acelerado
sábado, 18 de abril de 2009
Olhando lá atrás
Por mais que eu tenha lutado comigo mesma por uns tempos para não fazer isso, eu vivo pensando em retornar ao passado.
Se eu pudesse escolher, eu voltaria há uns dez anos atrás e faria questão de me agarrar mais às lembranças que fui me deixando esquecer, brincaria até o fim de todos os dias, aproveitando um pouco mais da minha infância que se foi sem que eu percebesse e faria questão de aproveitar as pessoas que me foram tiradas mais cedo do que eu gostaria.
Em seguida voltaria há uns dois ou três anos atrás e aproveitaria a época em que eu pensava ter problemas grandes, quando na verdade eu não os tinha. Não para mudar alguma coisa, mas para reviver os dias que me eram tão cinzentos com o colorido vivo que eu os enxergo hoje em dia. Teria chorado menos, me preocupado menos e talvez eu também tivesse sido um tantinho mais esperta e menos medrosa e com certeza eu aposentaria aquele moletom horroroso que eu usava. Teria tirado mais proveito das coisas, visto que aqueles dias (e tantos outros que me foram ótimos) não vão voltar nunca mais. Encontro o meu passado com frequencia. Não porque meu presente seja frustrado, mas porque eu gosto de relembrar daqueles dias, porque eles, mesmo sem querer, mesmo sem que eu percebesse, me trouxeram até aqui, fazendo de mim o que sou hoje.
Pauta para o Tudo de Blog da Capricho.
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Felicidade em celofane
Há algum tempo, numa conversa, um amigo me fez uma pergunta um tanto peculiar: ele me perguntou por que a felicidade não pode ser como bombons, desses que a gente enfia na boca um atrás do outro, que dão satisfação imediada e que principalmente são fáceis de se conseguir. No começo eu concordei com ele, mas depois que eu pensei melhor, cheguei a outro ponto de vista.
A questão é que bombons são ótimos, fazem um bem danado quando a gente come. Mas, se enfiássemos um atrás do outro na boca, como seria?
É claro que o gostinho de chocolate ia ser um ótimo companheiro no começo, em seguida já seria um gosto conhecido e por fim, acabaria por nos enjoar. Iria enjoar de uma forma que não ia dar pra suportar nem o barulho do papel celofane, sem contar que depois de um tempo ia passar a fazer mais mal do que bem, engordando e estragando os dentes, porque tudo que é excessivo acaba enjoando.
Bombons são para se comer de vez em quando, quando formos crianças bem comportadas e merecermos alguns de sobremesa, ou quando quisermos tirar algum gosto ruim da boca. Só assim para se aprender o valor do bombom.
Dessa forma, não se aprende somente a sentir o gosto doce dominar a boca, destruindo qualquer vestígio de amargo, aprende-se também a apreciar o brilho encantador do papel enquanto a embalagem é aberta lentamente, o calor crescente depois da primeira mordida e a maneira como fazemos de tudo para o gosto não ir embora depois que terminamos.
Com a felicidade é do mesmo jeito: se a tivermos em tempo integral, esqueceremos a sensação boa de sentir a felicidade nos invadir.
sábado, 4 de abril de 2009
Juventude Desviada
Maçãs nunca mais foram entregues à professora. No lugar de respeito e atenção, os mestres recebem hoje alunos que comportam-se como se soubessem mais do que todos e que nem se dão ao trabalho de prestar atenção no que lhes é ensinado.
Casos assim nos dias de hoje são bem mais frequentes do que se pode imaginar: Todos os dias algum noticiário relata o caso do aluno ensandecido que atacou oito colegas e um professor, do grupo de garotos que anda dando surras a torto e a direito em quem ousa discordar com suas idéias… já é algo que faz parte de nosso cotidiano, tanto que muitas pessoas já não se surpreendem mais e resmungando que o mundo está perdido, desligam a televisão e vão jantar.
O que acontece é que os pais de hoje em dia educam seus filhos de uma maneira completamente diferente de como os pais de uma ou duas gerações anteriores educavam. É utilizada a tática do “se ele alguém te bater, você devolve duas vezes mais” e uma geração de monstros violentos é criada em questão de segundos. Se fazem de cegos quando trata-se dos erros de seus filhos perfeitos e passam por cima das falhas cometidas por eles, culpando quem for necessário para livrar a cara de seus rebentos.Ou seja, o respeito torna-se uma palavra desconhecida dos alunos de hoje, dando lugar a uma selva onde o mais acobertado sobrevive.
Pauta para o Tudo de Blog, da Capricho.