Eu tentei. Eu juro, mais de uma vez.
Mas é como se uma força invisível me carregasse para fora, uma entidade anti-malhação assoprasse contra a minha força de vontade que sinceramente já não era lá essas coisas. E fazendo alguma reflexão, descobri o motivo de não ter me animado a voltar.
No meio do universo dos tênis que parecem uma caixa de lápis de cor derretidos, calças apertadas que parecem obras de arte do sobrinho de três anos e copinhos coloridos a torto e a direito, estava eu, reles mortal, de calça discreta e camisetão largo, tentando fazer com que os olhares não se desviassem dos espelhos que só faltavam cobrir o teto para ver aquele alienígena estranho e... comum.
A academia é um lugar que, para a minha pessoa, parece estar fora do espaço-tempo padrão. Não tenho nada contra quem faz academia, acho bonito quem se dedica a cuidar do corpo e da saúde, o problema é que eu tenho tudo contra os ratos de academia, porque acho que tudo que é demais, vira obsessão. Eu não sei o que essas pessoas fazem da vida, mas das duas, uma: Ou são todos iguais, ou são onipresentes. Não importava o horário que eu adentrasse o recinto, lá estavam eles. Quase desmontando ao levantar aproximadamente 500 kg de peso, com as pernas/braços tremendo tanto e com os rostos tão vermelhos que pareciam que a qualquer momento, ou explodiriam, ou seriam amassados pelo aparelho usado.
Esses seres comem, bebem, dormem e sonham academia. O suor deles deve malhar para ficar forte. Nas redes sociais, a foto do almoço é clara de ovo, aveia e whey sabor manga e a janta é frango branco, mais ovo e banana. Sem contar a batata doce, que é um clássico dos marombeiros. Essa é no café da manhã, almoço, lanche da tarde e janta - aí vai um anti espasmódico de sobremesa, porque o que esse povo deve peidar não tá escrito. A foto do look do dia é quase padrão: a legging com a meia esticada por cima, quase chegando no joelho para as mulheres ou a regata com alças finas mostrando os mamilos para os simpáticos moços com cara de pão amanhecido.
Conversar com essa galera então, é de deixar o queixo cair e empenar de tão surpreendente: Sabem todos os nomes de aparelhos, enquanto meu dialeto parece o de um recém chegado na China. "Aquele aparelho que você puxa para baixo com os dois braços" ou "Aquele outro que faz assim com a perna" (e exemplifico com o movimento). Tirando isso, ainda sabem as calorias de um pedaço de chocolate, receitas com whey, e falam sempre de academia, de seus músculos, de quantos quilos suportam e de quantas vezes na semana pulam o dia de malhar as pernas, porque alguns homens malhados chegam a dar medo de quebrar ao carregarem ombros tão musculosos em cima de perninhas de sabiá desnutrido.
Repito mais uma vez: Não estou generalizando, conto a respeito de alguns tipos presentes na academia. Os maníacos por corpo que não trabalham a mente. Eu não gosto de academia, não me adaptei e me senti fora do meu ambiente. Se você gosta de academia, eu te respeito e não vou te xingar.
Eu preciso chegar nas frases de efeito, também usadas como hashtag? CLARO que preciso.
Coisas como "Fica grande por*!", esquecendo do verbo no infinitivo, o famigerado TREINO - que eu não entendo... tá treinando pra quê? - e suas mais variadas expansões, como treino insano, TOP e o mais recente, "fibrado" (que dá até medo de procurar a respeito, sério!). Frases de para choque de caminhão ("Que sua inveja vire minha massa muscular" Epa!) , pegar peso até distender músculo, ir faça chuva ou faça sol e ter um corpo malhado como objetivo de vida não estão para a alma que habita esse corpo, que em outra vida deve ter sido criada com uvas na boca e folhas de palmeira para refrescar, eu passo, deixo para quem tem mais #foco. Vou ficar aqui comendo um chocolate, fazendo uma pipoca, lendo livros e comendo bolo, porque quando eu mostrar uma foto minha por aí, estarei com cara de feliz (vide imagem abaixo).
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Há 2 meses