segunda-feira, 18 de junho de 2012

Rei de Espadas

Costumava mandar no mundo, comandava todos os homens que conhecia e nenhum deles ousava desobedecê-lo. Aquilo era seu maior orgulho e a sua maior certeza de que carregava em seus ombros um poder enorme, além de seu manto. Entendia que era superior a todos aqueles que costumava olhar de cima.


Quando empunhava sua espada, podia ver em cada olhar que encarava o mais profundo e sincero medo. Era obedecido por seus iguais e temido por seus oponentes, por aqueles que estavam do outro lado do rio e das terras. As vezes, supunha que se chegasse ao inferno, qualquer criatura que lá habitasse temeria sua fúria, seu braço e seu escudo estrelado.
Seus joelhos nunca se dobravam a ninguém, seus castelos eram sempre os maiores, com as maiores portas e guarnições de soldados armados. A riqueza que havia conquistado era inigualável, assim como a beleza que ele via todos os dias no reflexo da bacia de prata polida e a qual cuidava meticulosamente a cada dia que se passava.
Havia rosas em seu caminho, chuvas de pétalas, aclamações e festas com os banquetes mais ricos e sofisticados. Qualquer porta era aberta para ele de bom grado. Recebia oferendas das mais variadas: peles de tigre de uma terra ainda não visitada, temperos dos mais coloridos, jóias com as pedras preciosas mais exóticas.

Seu coração era o mais frio de todos os reinos pelos quais já havia passado. Nunca havia encontrado sequer uma pessoa que houvesse algum dia chegado perto de ter os olhos tão duros e precisos quanto os seus e também não havia encontrado alguém que conseguisse suavizar os mesmos olhos.


Costumava escrever as linhas de sua história com sangue e poder, juntamente com a história de outros ao seu redor, mas então chegou um dia em que toda a vida que havia vivido como rei veio abaixo como um castelo de finas cartas.
Tudo aquilo que reinava veio ao chão.

As paredes de suas fortalezas mais protegidas tornaram-se areia e sal, escorrendo rapidamente pelas fundações que ele mesmo havia projetado.
Sua espada agora estava quebrada e o fio há muito havia se perdido. A pintura de seu escudo já não brilhava com as cores vivas e sua armadura já não era reluzente.
As chaves que abriam as portas tão facilmente se enferrujaram e quebraram a um mero toque e assim, as portas que via serem abertas com tanta facilidade fecharam se diante de seu rosto, que ainda era bonito, mas não tinha a mesma fúria de antes.
As joias que ganhou sumiram. Foram presentes dados na tentativa de reconquistar todos aqueles que tinham se virado e saído por cada porta e cada portão que se encontrasse aberto.
O guerreiro estava derrotado. 
O reino que havia conquistado pela fúria havia se enfurecido contra ele e foi só então que ele percebeu que nunca ninguém havia realmente gostado de sua pessoa, ninguém jamais havia servido a ele por gosto e sim pelo mais puro temor ao fio de sua espada. Pela primeira vez em sua vida havia caído de joelhos na terra, em meio ao deserto que um dia foi seu reino.
Descobriu então, depois de tudo ter esvoaçado para longe como um retalho de seda, de que errara pelo caminho todo e que, por isso, ninguém havia dito uma palavra honesta para ele em sua vida.