segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Quando o perfume acaba...


Ouvi dizer, certa vez, que não se pode dar perfume de presente para a pessoa amada. Seja namorado ou marido, namorada ou esposa porque reza a lenda que quando o conteúdo do frasco de perfume acaba, o amor também se vai.

Como pode uma coisa tão grande como o amor estar contida em um pequeno frasco de vidro, ou em um líquido com fragrâncias das mais variadas? Será possível que o parceiro que compra o presente depositaria então todo o seu amor e toda a história do casal dentro do vidrinho tão frágil ao colocar suas mãos decididas à entregá-lo de presente?

Ou será que o vidrinho tem poderes paranormais e rouba todo o sentimento de quem o pega, ficando com tudo só pra ele, vaidoso e egoísta que é. Não basta ter cheiro bom?


E se o vidro por ventura cair no chão, meu Deus do céu? O amor se espatifará em lascas afiadas, com seu conteúdo espalhado por todos os cantos do recinto, escorrendo como água e deixando um cheiro forte, que entra pelas narinas e se grava tão fundo que de lá não sai por várias horas? O cheiro de um amor que era pra ser e não foi, porque mãos descuidadas o seguraram com imprudência e como se fosse de borracha deixou com que fosse ao chão, sem pensar nas consequências que esse tipo de imprudência poderia causar?

Tudo bem se ele fosse atirado, com todas as forças e com acessos de raiva e falta de cuidado, arremessado com gosto, mas o amor seria capaz então de se acabar, se quebrar e se espalhar escandalosamente com uma queda acidental? Seria ele tão frágil assim?


Só se for um amor muito fraco e quebradiço para se acabar junto com um perfume dado de presente. Muitos outros frascos podem vir em seguida, muitas outras cores e fragrâncias diferentes. Por que tem que acabar o amor junto com o perfume, quem fez essa associação?

Amor não se mede em mililitros, não se mede em pequenos frasquinhos estilizados, do tamanho da palma da mão, seria ele tão pequeno assim?

Imagino uma mulher bem velha, segurando um pequeno vidrinho verde, explicando para seus sobrinhos quando lhe perguntassem o que era aquele frasquinho que ela tanto amava "Isso é o que restou do amor do seu tio".

As pessoas é quem deixam o amor se acabar, elas é quem deixam os corações se afastarem por demais em suas próprias rotinas e prioridades e acabam se esquecendo de dar atenção ao que realmente importa, afogando-se em reclamações, xingamentos e nervos à flor da pele, gritos e orgulho. Por mais que se queira, não adianta culpar os perfumes.