domingo, 30 de agosto de 2009

Amor amigo

Apaixonar-se por um amigo não é uma coisa lá muito fácil. O primeiro sentimento que surge é o medo de perder toda a confiança e a amizade bonita que foi construída dia-a-dia. Mas a vida as vezes prega peças, inclusive nos melhores amigos que viam-se como irmãos e um dia começam a se olhar de um outro modo, quase que sem querer.
E já que se está correndo o risco, o bom mesmo é se jogar de cabeça na nova situação, se o sentimento é recíproco e a amizade é forte. Porque se uma amizade é forte, ela resiste mesmo se alguma coisa no relacionamento despencar. E diga-se de passagem, amar um amigo é a coisa mais divertida e mais colorida que pode acontecer, pode se conversar com liberdade sobre qualquer coisa e o namorado, por antes ser seu amigo, não vai nem ligar para aquela mania estranha que você tem. Ter um melhor amigo é uma coisa de preço altíssimo, mas ter um namorado melhor amigo é simplesmente impagável quando não se tem medo de arriscar.


Pauta para o TDB: E se o seu BFF se apaixonar por você?

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Versos verdes

Já perdera as contas de quantas vezes tinha dito a mesma coisa, de quantas vezes esclarecera para dois segundos depois parecer que não tinha dito nada e o mais irônico de tudo é que ela não largava a situação, simplesmente porque não tinha a mínima vontade.
É claro que pelo menos uma vez por dia ela ameaçava ir embora, pegava o casaco onde quer que ele estivesse, procurava as chaves na bolsa, arrumava o cabelo rapidamente e marchava holding-hands1decidida para a porta, mas fazia tudo isso esperando pra sentir o aperto da mão dele em seu braço ou em sua mão, segurando-a, impedindo-a. Ela não sabia porque fazia aquilo e sabia que um dia ela não sentiria aquele aperto forte, meio nervoso e então ela teria que caminhar sozinha - se sentindo mais vazia e com mais frio do que nunca.
Ainda assim, gostava de ver aquele olhar intenso nos olhos dela, num pedido mudo para não fazer brincadeiras daquele tipo, censurando-a em silêncio e ainda que visse uma sombra de raiva dela, não sentia o menor medo. Até gostava de ver aquela raiva perpassando os olhos dele, porque era ligeiramente louca, porque amores incomuns faziam muito mais o feitio dela e na concepção dela amor tinha que ter dessas coisas, além de beijos um pouco desesperados, mãos entrelaçadas e toda a proximidade que ela descobriu necessitar de uma hora pra outra, por mais que ela odiasse admitir.
De todas as coisas que ele fizera despertar nela, aquela necessidade de estar perto, de estar junto e de discutir por cada ponto fora do lugar era a mais irritante, a mais incômoda e a mais curiosa, porque carregava uma série de mistérios que ela acreditava nunca ser capaz de decifrar. Se alguém lhe tivesse contado que dali a alguns dias ela estaria daquela forma, os olhos brilhando tanto quanto brilhavam, a boca num sorriso quase que em tempo integral e a atenção tão desviada em certos momentos, ela teria rido da pessoa, e rido alto. Mas agora encontrava-se em um furacão de coisas novas e de intensidades maiores em que ela nunca imaginou estar e ela em toda a sua bagunça não achava aquilo ruim, nem de longe.
Seu espírito curioso estava de volta e ela queria saber o por que de todas as coisas mesmo sem saber explicar muitas outras, suas manias estavam mais irrefreadas do que nunca e pela primeira vez em sua vida ela não se sentia culpada por permitir-se sentir as coisas e falar tudo com sinceridade. Isso sem contar o seu espírito de criança que saltitava de saia rodada por todos os cantos e incrivelmente conseguia fazer com que ele risse alto e a olhasse com uma admiração que ela não teria conseguido imaginar nem nos seus sonhos mais coloridos. Se alguém lhe perguntasse qualquer coisa naqueles últimos dias, ela teria encontrado uma resposta satisfatória, teria inventado uma teoria muito mais forte do que as que costumava criar, sorriria e até mesmo conseguiria explicar cada movimento de seu próprio destino.
Ela estava aprendendo e juntamente com isso estava ensinando e todos os dias havia algo novo para  ver ou para dizer, mesmo que todos os dias fossem iguais e ela, para sua própria surpresa, sabia não estar nem um pouco disposta de abrir mão daqueles olhos tão verdadeiramente verdes que um dia ela encontrara quase que por acaso.