sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Significados

Eu caminhei inúmeras vezes por aquelas ruas.
Vi as mesmas luzes acendendo e apagando tantas vezes que chegaria ao final da minha vida e não teria alcançado o número certo.
Respirei o ar de pelo menos quatrocentas e oitenta e sete manhãs, sentei e esperei a hora passar, senti a grama nas minhas mãos, olhei para o céu estrelado, esperei involuntariamente durante o inverno aquelas manhãs em que o sol batia na parede da sala e senti dores latentes por ter corrido demais.
Tudo isso passou por mim inúmeras vezes. Só agora consegui me dar conta de que passaram. Só agora me dei conta de que as deixei passar por mim como se fossem parte de um ciclo vicioso, como se fossem meras figurantes em minha vida.
Em tempo, abri os olhos para todas essas coisas as quais estavam passando por mim como cenas aceleradas, borradas, tamanha a rapidez. Pude perceber que fui me deixando anestesiar pelo passar dos minutos, pela pressa que me cegava e pela obsessão insistente de que o dia simplesmente acabasse.
Sei que ainda há alguém aqui, sei que a minha música não pára. Agora, quando ando depressa, tenho o prazer de sentir o meu coração acelerar e bater contra o meu peito e fazer escândalo depois que eu desacelero. Posso sentir as dores que aparecem, desagradáveis, mas que servem para lembrar-me que estou viva. Até mesmo sentir uma lágrima escorrer pelo meu rosto tem lá o seu encanto. Em determinado momento do meu dia, paro e posso admirar durante alguns segundos o sol se pondo e tingindo o céu de vermelho e a espera por ele iluminar a parede da sala não é assim tão involuntária.
Cada dia pode ser como um recomeço,
e eu ainda posso ser salva.


quarta-feira, 17 de setembro de 2008

De causas e buscas

Sempre fui de discutir pelos meus direitos, de questionar algo que não julgava correto quando todos abaixavam a cabeça e apenas aceitavam. Por isso, acabei levando fama de rebelde sem causa, acreditando por um longo tempo, que eu de fato o era e por isso não buscando algo porque brigar, apenas me defendendo quando achava que precisava.
Ainda assim, por um longo tempo, me vi apagada, vivendo na sombra de várias pessoas, sendo motivo de risos, sentindo o gosto amargo de uma infelicidade que eu sabia não me pertencer, encolhida em um canto, até que cansei, pois sabia que aquilo não era meu: abri as minhas asas, e fugi para longe, fui buscar o que era meu por direito.
Passei a notar que se eu quero algo, eu tenho que procurar, porque ninguém se dispõe a fazer conquistas pelos outros. Se eu não faço nada por mim, ninguém fará, se eu não buscar o meu sorriso, chorarei rios para sempre. Pude observar o tamanho da satisfação de ganhar uma causa por mim, de não ficar calada e notar que esse é justamente o medo de quem eu tenho medo.
Notei principalmente que buscar os meus objetivos é o que me faz bem e que se eu dou um sorriso, faço o meu mundo melhor, permitindo que o mundo das pessoas ao meu redor seja melhor, como uma corrente.
Declaro agora, depois de longos anos, que descobri não ser uma rebelde sem causa: minha causa é buscar a minha felicidade.

Pauta para o Tudo de Blog, da Capricho: "Qual a sua bandeira?"

domingo, 7 de setembro de 2008

autobiografia chuvosa


Lembre-se de mim enquanto chove lá fora. Lembre-se de mim com as gotas sonoras no telhado, porque eu sou a chuva e quando você pensa em mim, você se confunde e não consegue pensar em mais nada.
Lembre-se de mim como lembra da chuva: o conforto dos cobertores, uma tarde tranquila, um carinho, um alívio para a alma. Das gotas que refrescam nos dias de calor, nas risadas sem sentido, do desacelerar dos passos, uma vez que já se está todo molhado, dos medos escoando com a água.
Lembre-se da minha risada, do meu sussurrar, dos nossos passos estalando com a água, mesmo que não estejamos juntos, Lembre-se de uma brincadeira sem sentido que eu fiz, ou de alguma frase que eu disse, que nem eu mesma lembro mais.
Ouça o trovão ali perto e ouça também a minha voz como um fantasma, te dizendo que é besteira. Quando o som vier de longe, fraco e quase imperceptível, ouça-me dizendo que doeu.
Que a chuva me leve até você, como traz você para mim em certos momentos. Um pingo de calma, um de tortura e outros tantos de saudade (da tua voz, do jeito, do corredor...)
Que os raios te despertem a vida, te incentivem a prosseguir, que rapidamente discordem com seu pensamento e que representem aquele lampejo no meu olhar.