domingo, 27 de julho de 2008

Noturno II


Eu tento escrever, mas as palavras decidiram se estagnar nesses últimos dias.
Meus sonhos têm se mostrado de papel, daqueles bem frágeis e ameaçam se desfazer com a mínima garoa (ainda não se desfizeram?). Por onde quer que eu ande, o som ecoante dos meus passos me lembram a todo instante de que estou só.
Os pensamentos vem, vão e voam, sem se deixarem prender. Sou incapaz de segurar um deles, eles são curtos, arredios e na maioria do tempo, não fazem sentido.
Essa letra é de alguém que não sou eu. Eu deveria acreditar que o que eu tive foi um progresso, mas não consigo me fazer satisfeita com essa idéia, não sei por quê.
O tique-taque do relógio passa a ser um grito, que bate incessantemente nas quatro paredes do quarto escuro e vazio. Quer me dizer algo, mas não consegue se expressar. Eu já não quero ouvir, minha existência nesse momento se resume apenas a sentir a distância de toda e qualquer coisa, a encarar o teto como se ele fosse me oferecer alguma resposta e a aceitar que mais uma vez, a noite vai fazer questão de me apresentar cada segundo detalhadamente.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Fuga artificial


Olhos arregalados, respiração rasa e difícil, medo intenso de alguma coisa dar errado. Mesmo assim, eles arriscam. E estão dispostos a correr o risco com a esperança de que suas vidas conturbadas ou mesmo arrasadas fiquem pra trás. Tudo pra sumir por alguns segundos, tudo pra sentir o corpo entorpecido, sentir que nada os atinge e que finalmente estão conseguindo se distanciar daquilo que os assusta tanto.
Esse é o maior desejo de quem usa drogas para fugir de algum problema que é grande demais pra ser encarado. O desejo de que com alguma sorte não voltem para o lugar em que se encontravam antes de se drogar, o desejo de ver alguma mudança em suas vidas.
Nada disso vai funcionar, muitos têm consciencia. Mas a mente está tão cansada de sofrer as agressões e o corpo tão estafado de resistir sempre, que qualquer porcaria que os carregue pra outros céus é extremamente sedutor.
E assim fogem, pra bem longe, com os olhos vagos. Cinco minutos ou menos, sabendo que esse não é o melhor caminho, com medo, e desejando ficar longe de uma "bad trip".

Pauta para a sessão Tudo de Blog da Capricho. "por que as pessoas usam drogas?"

sábado, 19 de julho de 2008

Sobre a vida e os anjos

Quando nascemos, ninguém nos avisa que a vida é fácil, nós vamos aprendendo esse tipo de coisa quando caímos da bicicleta e ralamos o joelho, quando não podemos comer o bolo antes do jantar, quando a prova veio com um zerão vermelho, quando nos metemos em uma enrascada sem tamanho e quando a responsabilidade passa a ser inteiramente nossa. Se soubéssemos dessas dificuldades, muitos de nós escolheríamos nem nascer. Mas não é assim, não pedimos pra nascer, mas nascemos e ponto. Somos obrigados a andar, a escrever, a saber, e principalmente a encarar a vida de peito aberto, de uma maneira ou de outra. É difícil, mas não impossível, porque no nosso caminho vão surgindo pouco a pouco, seres iluminados, mágicos, obras de algo que sem dúvida é divino. E esses seres acabam, mesmo que involuntariamente, nos abrindo caminhos, nos ensinando a ver a vida com outros olhos, a ver cor nas coisas que sem eles, com certeza seria em escala de cinza.
Esses anjos sem asas nos mostram que sozinhos somos fortes, mas que juntos somos imbatíveis e juntos dividimos nossas experiências e acabamos criando um enorme instinto de proteção. Com o tempo, nos tornamos companheiros de travessura, de tristeza e te guerra, nossos gostos e manias acabam se fundindo, acabam se confundindo. Em certas vezes, as palavras se tornam dispensáveis e os olhares são como longos diálogos. As brigas são inevitáveis, mas a fraternidade também acaba sendo. Temos certeza de que veremos esses rostos na nossa frente, quando os olhos não conseguirem se abrir direito, seja por riso incontrolável ou por lágrimas de tristeza. Os momentos divertidos são ótimos com eles, assim como quando gastamos infinitos minutos sem fazer nada, apenas presentes, apenas juntos.
Que a amizade não seja destruída nunca, que mude, pois é necessário, mas que não perca a pureza e a sinceridade de ser o que é. Que não nos afastemos nunca, que não nos deixemos esquecer todas as coisas que passamos juntos, que os nossos corações estejam sempre unidos e sempre próximos, mesmo se algo chamado tempo se aliar a algo chamado distância, pois anjos são onipresentes, mesmo os que não têm asas.

Não tenho medo, estou com vocês. Sempre.

Pauta para o Site da Capricho, e post em homenagem ao dia do amigo (20 de julho).


terça-feira, 15 de julho de 2008

de boas vibrações

Desejo a você uma noite clara, quente, calma e cheia de estrelas e amigos por perto para poder conversar.
Desejo que você tenha bons momentos junto de alguém e que a felicidade venha a você, plena, intensa e na sua mais pura forma
.
Desejo que você não controle o riso e que ria com vontade. Que possa se divertir sempre que quiser, sem ter que fazer muito esforço. Desejo que você nunca envelheça , que permaneça jovem, inconsequente e que sempre que puder atenda aquelas vontades loucas que vem de Deus-sabe-onde.
Desejo que o seu coração nunca enferruje, por mais que tome baldes de água fria, que sempre haja coragem pra outra aventura.
Desejo realmente que você esqueça dos seus medos e que decida arriscar tudo vez ou outra, que possa se livrar de suas pressões e que tome consciência de que por cinco minutos você pode se distanciar de todas as suas responsabilidades e ter um bom momento.
Desejo também que você se lembre de olhar pro alto e ver as nuvens e ver os desenhoe que elas formam, que não meça esforços para se fazer feliz. Que você corra pela grama, que ria até a barriga doer e que tenha diversas oportuidades de ver o sol nascer.
Que quando falar, fale com a alma, que saiba brincar e que não quebre muitos corações. Que ande com cuidado e que tenha muitas histórias pra contar. Desejo que não esqueça, que use de inteligência, que seja espontâneo como sempre e que não se deixe mudar por qualquer um que apareça no seu caminho.
Desejo mais do que qualquer coisa que seus caminhos sejam cheios de luz e que as mais belas cores estejam presentes em você, que você acerte muito, mas que também erre, para se lembrar de que é humano e está sujeito. Que você saiba do seu valor, que ande com firmeza e que o brilho de fogo no seu olhar não se apague por nada.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

balões festivos


Século XXI, tecnologia, informação excessiva, modernidade em geral, significa a quebra mais do que tardia do tabu sobre sexo na adolescência. Sabendo que cada vez mais jovens descobrem o mundo dos hormônios e sabendo que isso está acontecendo cada dia mais cedo, o governo resolveu implantar máquinas de camisinha nos banheiros das escolas. Apesar de achar que é uma medida de precaução, também acho que é um incentivo. Um amasso debaixo da escada, um calor a mais no corredor escuro e deserto... tudo bem que desde que o mundo é mundo, ou pelo menos desde que existem adolescentes saidinhos se dá um jeito de chegar nos finalmentes. Com a máquina de camisinhas ali do lado, as coisas ficarão mais fáceis e sexo na escola não é uma coisa própria. Sou contra. Se as aulas de educação sexual já são irritantes com aquelas risadinhas imaturas pelos cantos e se sem máquina de camisinhas sempre tem uma ou outra voando pela sala de aula, eu não quero imaginar como vai ser se essa idéia for realmente aderida.



quinta-feira, 3 de julho de 2008

Torpor


Algo diferente surge. Não que seja estranho, nem incomum. É só inesperado, talvez até um pouco indesejado. De repente ele, o vazio, se torna presente. Não é ameaçador, nem perigoso. Eu só posso perceber que é ele quando ele se instalou de vez, quase que sem nenhum aviso. Ele tem dado as caras com alguma frequência. Não, talvez ele nunca tenha ido embora. Talvez tenha apenas tirado umas férias de mim, ou me dado um tempo pra me distrair. Não sei bem como definir o que me faz pensar, ou o que me faz sentir.
Ele é suave, quase como veludo, cinza. Talvez tenha um certo brilho em sua existência. É irritantemente melancólico e me faz sentir da mesma maneira, sentindo que as coisas não se movem, ou que eu esqueci de me mover. Definir-lo sempre vai soar vazio e talvez seja assim porque estou tratando do vazio e somente dele.
Andar pelas ruas, algumas janelas, luzes acendendo e apagando, nada disso adianta. Ver as pessoas andando em todas as direções e imaginar como elas lidam com suas vidas pensando que o meio da multidão é o centro da vida só agrava a situação: nesse ponto o vazio se torna extremamente evidente, porque nenhuma vida é a minha vida, e por mais que as pessoas possam ver meus olhos, nenhuma delas poderia saber o que se passa na minha alma.