quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

água com açucar

Tarde de chuva. Os planos desfazendo como papel molhado.
Era agora: ou eu matava aquele tédio infernal, ou ele me matava. Empunhei o contole como se ele fosse a mais cortante das espadas lendárias, mirei a TV.
Estava passando um filme de comédia romântica e eu enfrentei a tarefa, até porque não havia nada melhor pra fazer.
Que a maioria dos garotos (as vezes nem tão garotos assim) saem de uma sessão de cinema querendo ter a habilidade do homem-aranha, o mistério do Batman ou causar o mesmo frisson que o Don Juan, é de conhecimento geral.
O que andei notando, é que as mulheres têm a mesma reação: quando vêem os filmes de romance e saem de casa olhando em todas as direções, acreditando que até mesmo o tiozinho que passa o dia bêbado no bar pode ser o seu príncipe encantado.
Toda mulher (inclusive eu) fica nas nuvens, acreditando que o final feliz de suas histórias estão reservados, talvez guardados em uma curva do caminho, além de suas vistas, acreditando que também pode vencer as madrastas mal amadas, os vilões malvados ou as barangas mal intencionadas que pretendem agarrar os mocinhos com as maiores falcatruas e armações.
Essa sensação acaba indo embora cedo, pois por maior que seja o devaneio, toda mulher sabe que vive em um mundo diferente e que suas histórias não duram uma hora e meia e sim são cheias de altos e baixos, uma série de ganhos e percas sem fim. Além disso, tem sempre um pentelho que tem a voz da razão e diz que ninguém tem o poder de fazer da vida um filme.
O consolo é saber que não há ninguém que possa arrancar os sonhos e modificar a imaginação e nem tampouco impedir aquela sensação pós filme água com açúcar, aquela sensação de que sonhar é grátis e indolor, e que está acessível a todos.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Chocolaterapia

Sabe aqueles dias em que nada dá certo, onde se esquece a carteira, perde o ônibus, derruba café na roupa clara e pisa no cocô de cachorro no intervalo de uma hora? Esses dias poderiam ser comparados ao chocolate velho, daqueles que a gente encontra no fundo da bolsa, e come mais por curiosidade do que por necessidade. Esse tipo de chocolate engrola na boca, tem gosto ruim e parece não terminar. Assim como o dia.
Os dias em que a gente acorda se sentindo bem, os olhos não estão inchados, a prova de inglês é fácil e aquele fofinho nos elogia seria a trufa com recheio de morango. Pequena e açucarada.
E aqueles dias de carência total, em que nos sentimos mal amados, o último dos mortais deixados no escuro, os monstros feios e recalcados, os vilões da história, achando que o destino será definhar em uma casa de portão baixo, cuidando dos oito gatos e três periquitos combina com uma barra grossa, recheada com nada mais que calorias e o peso na consciência por ter comido demais.
Há os dias em que nos sentimos incluídos e conectados com nossos amigos, e isso lembra inconfudivelmente com o chocolate barato dividido em quatro ou cinco pedaços, acompanhado de risos, palhaçadas e muita conversa jogada fora em um canto qualquer da cidade.
Há diversos outros dias, e eu poderia gastar mais milhares de linhas com minhas analogias (isso é tão legal *-*), mas eu farei só mais uma: aquela, dos dias em que nos apaixonamos. É incomum, raro, por isso, exótico.
Tudo parece fazer sentido, mesmo não fazendo sentido algum. Nuvens de algodão doce e estrelas de açúcar cristal parecem ser totalmente plausíveis e o sabor é incrivelmente doce, com um fundo de mistério. Se parece, inegavelmente, com uma taça de sorvete de chocolate crocante, com calda de chocolate, um toque de castanhas e uma cereja doce em cima.