domingo, 23 de setembro de 2007

Os fins e recomeços

O amor acaba.

Acaba depois de uma epifania, virando a esquina da padaria, atravessando a rua.
Acaba assim que um beijo termina, desiludido por não ser aquilo que se esperava. Acaba depois de fumar um cigarro, depois de ser desiludido, descoberto.
O amor acaba quando os olhos se abrem, quando a frieza domina, quando as cores não vibram na alegria, na desilusão de uma perda, na obstrução de um limite. Acaba depois de uma noite de lágrimas, uma manhã de cara inchada, depois de um grito de ódio e um estrondo de destruição.
Acaba depois de uma descoberta, daquelas que te deixam de olhos arregalados. O amor acaba depois de muito sofrimento, depois de travadas inúmeras guerras internas, muitos gritos, depois de muitas caretas.
O sorvete num dia ensolarado derrete, as fotos amareladas somem, as lembranças se rasgam como um véu finíssimo, embrulhadas por braços invisíveis.

Tudo fica pra trás, tudo muda.
O ano não é mais o ano passado e isso por muitas vezes não funcionou como um consolo, por muitas vezes o desejo de que fosse o ano passado assustou, mas era real. Completamente real.
O pensamento de que se era feliz naquela época faz o amor de hoje parecer patético, fraco. Os sorrisos parecem tão falsos...
Em outros braços, outras bocas, outros sentidos. Correndo em desespero debaixo da chuva, chorando aquele choro que se contorce o rosto sem querer, quase atropelada. Fugindo do amor que sentia, que a dominava, que a amedrontava.
Mais gritos, dessa vez com seus iguais, com pessoas que não concordavam uma flagelação daquele tamanho, acalentando o sentimento como se fosse uma frágil criança, sozinha. Achando o brilho no olhar, no olhar que não era dela. A saudade por vezes jurou que ia matá-la em alguma noite perdida, revoltada por seus próprios sentimentos, tentativas infundadas.
Tentativas infundadas de tentar se perder em outros braços, dando um amor que outras pessoas nunca entenderiam, e que por não ser delas, não se encaixou. Fria. Frio. Tarde demais.

Caindo sentada no meio do nada, de joelhos implorando para que tudo aquilo acabasse. Implorou tanto que acabou.
Acabou.
Silêncio. Fim.
O amor acaba por cansaço.
O amor acaba tão somente pelas pessoas acreditarem em uma perfeição que não existe, criando assim desilusões e consequentemente, o fim de um amor que poderia ter sido maravilhoso. Mas ele não aconteceu!
A cada dia que passa eu me decepciono mais, com a forma egoísta de amor.
Com a espera de receber algo em troca.
Cada vez menos amor
Cada vez mais fim do amor.
A todo minuto o amor acaba, a verdade acontece.
A cada minuto a verdade se esquece
E o amor tem uma chance de recomeçar
A cada segundo.

[inspirado no texto "O amor acaba" de Paulo Mendes Campos]

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Sobre Sentir Saudade.

EEram duas e pouco da tarde, e eu resolvi tomar um banho.

Não é o que se pode chamar de acontecimento extraordinário, mas o relato tem que começar de algum jeito, não?


Eu tinha muita coisa rondando a minha cabeça, muita coisa que não deveria estar rondando. Então resolvi tomar o raio do banho.
E a música da Joss Stone tocando (certo, cortaram a merda do refrão no meio, os caras conseguem estragar uma música boa ¬¬'), e eu lá, de repente eu lembrei de um certo dia da minha viagem, eu também estava no banho.
A água caía quente e logo depois ligeiramente mais fria, pra em seguida recomeçar a esquentar... não era o que se pode chamar de uma sensação boa, mas eu estava no banho justamente porque era uma das coisas que eu fazia quando me sentia mal.

Pensava em como as coisas são estranhas, em como a vida acaba pregando peças...
Todo o mundo fala que cada minuto tem que ser vivido como o ultimo, e que sempre se deve deixar as pessoas que se ama deixando o seu amor bem claro, porque pode ser a última vez que as vemos.
Eu sempre dei muito valor a essas palavras, o problema é que poucas as vezes foram as que eu coloquei isso em prática.
Não que fosse tarde, eu estava a quilometros de distância das pessoas que mais me importavam, praticamente do outro lado do mundo, com um monte de terra desconhecida e água nos separando. Confesso que a maioria do tempo eu tentava manter a minha cabeça distraída com alguma coisa, de preferência que não me lembrasse de ninguém.
Fazia isso pra não pirar, porque me doía a falta que aquelas pessoas me faziam.

Concluí que a saudade do outro lado do mundo é diferente da que sentimos aqui.
Lá ela também é inconveniente e surge com apenas um olhar para uma coisa, uma pessoa ou uma ação que lembra alguém, mas quando você está aqui, você sabe que a pessoa está vivendo a vida dela, está sorrindo e andando, ou talvez até mesmo em casa, mas sabe, tem a certeza de que ela está debaixo do mesmo céu que você.
Onde eu estava, naquele momento, eu não sabia se determinada pessoa estava feliz ou triste, se lembrava de mim ou se estava ocupada demais pra isso, a comunicação era bem mais complicada, as horas não eram as mesmas, as vidas pareciam tão distantes...

"Falta pouco agora, e você não tem notícias de alguém que morreu por sentir saudade..." a voz na minha cabeça, aquela que sempre me ajudava dizia incessantemente, e a palavra saudade continuava reboando na minha cabeça quando eu sorri e deixei a sensação se apossar de mim.
Aquela sensação que eu havia me acostumado a sentir e que na maioria das vezes tinha sido minha amiga, que apesar de ser um pouco incômoda, era aceitável e chegava até mesmo a ser bonita.

E então eu desliguei o chuveiro e ainda sorrindo, eu tive a certeza de que voltaria a mesma, mas muito diferente. E naquele momento eu lembrei que em breve eu estaria em casa.